Pesquisa personalizada

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Prova e Gabarito - Professor de Filosofia - Prefeitura de São Paulo - Fundação Carlos Chagas - 2007


Prova e Gabarito - Professor de Filosofia - Prefeitura de São Paulo - Fundação Carlos Chagas - 2007  
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

21. Até agora se supôs que todo nosso conhecimento deveria regular-se pelos objetos; porém, todas as tentativas de estabelecer algo "a priori" sobre ele, através de conceitos, por meio dos quais nosso conhecimento seria ampliado, fracassaram sob essa pressuposição. Por isso, tente-se ver uma vez se não progredimos melhor nas tarefas da Metafísica, admitindo que os objetos devam regular-se pelo nosso conhecimento (...).
O texto acima
(A) ilustra de modo exemplar a ruptura do cartesianismo com a filosofia escolástica.
(B) resume o ideal de conhecimento professado pelos empiristas britânicos.
(C) resume a chamada "revolução copernicana" de Kant que serviu de orientação para a crítica da razão.
(D) apresenta o ideal platônico de conhecimento ao propor que a filosofia se volte para os objetos do mundo intelígivel.
(E) apresenta a orientação fenomenológica proposta por Edmund Husserl.

22. O filósofo empirista David Hume celebrizou-se por sua crítica à concepção clássica da causalidade. Qual das afirmações abaixo resume a posição desse filósofo acerca da relação de causa e efeito?
(A) A causalidade é inteiramente estéril para o conhecimento dos objetos da experiência.
(B) A causalidade indica uma ligação essencial, pois o ser do efeito está contido em potência no ser da causa.
(C) A causalidade é dada a priori para o entendimento humano.
(D) A causalidade é uma relação externa aos objetos, tributária do hábito e da repetição de seqüências observáveis na experiência.
(E) A causalidade é inteiramente desprovida de validade no quadro conceitual do ceticismo humiano.

23. Thomas Hobbes é conhecido por sua descrição do estado de natureza como um estado de guerra de todos os homens contra todos os homens. Para superar essa condição inicial de insegurança Hobbes propõe a instituição de um Estado
(A) pautado por um ideal de isonomia e igualdade social.
(B) civil mediante um pacto que transfere todo direito natural dos indivíduos a um soberano.
(C) liberal que assegure o direito à propriedade privada e às liberdades do indivíduo.
(D) pautado por valores democráticos, no plano político, e pelo mercado, no econômico.
(E) fundado no despotismo esclarecido e nos ideais iluministas.

24. Na Inglaterra e na França, o Iluminismo começa demolindo a velha forma do conhecimento filosófico: os sistemas metafísicos. Ele perdeu a fé no "espírito de sistema". Ele vê nesse espírito não a força, mas um obstáculo à razão filosófica. Mas ao renunciar, e mesmo ao opor-se diretamente, ao "espírito de sistemas" a filosofia do Iluminismo de modo algum abre mão do "espírito sistemático" (...). Ernst Cassirer
No trecho acima, Ernst Cassirer assinala a posição dos iluministas diante dos sistemas metafísicos do século XVII. Segundo sua interpretação, é correto afirmar que
(A) o Iluminismo foi um movimento filosófico que recusou todo e qualquer pensamento sistemático.
(B) os iluministas franceses recusavam o pensamento sistemático, mas os ingleses o admitiam.
(C) os iluministas ingleses recusavam o pensamento sistemático, mas os franceses o admitiam.
(D) o Iluminismo considera o "espírito sistemático" como um entrave à atividade do filósofo.
(E) é necessário distinguir entre "espírito de sistema" e "espírito sistemático" para compreender a crítica do Iluminismo à metafísica clássica.

25. Há já algum tempo me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas opiniões falsas como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados, não podia ser senão mui duvidoso e incerto; de modo que me era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente desde os fundamentos se quisesse estabelecer algo de firme e de constante nas ciências. Descartes
A partir desse texto que abre as Meditações Metafísicas de Descartes, é correto afirmar que
(A) a filosofia cartesiana toma como ponto de partida a dúvida metódica e só admite como verdadeiro o conhecimento que a ela for capaz de resistir.
(B) o cartesianismo é uma modalidade moderna da filosofia cética, já que nega a evidência de todo o conhecimento que o precedeu.
(C) a filosofia de Descartes não é capaz de demonstrar a verdade das teses que propõe, já que desde o início se pauta pela dúvida.
(D) o cartesianismo tem aspirações modestas e recusa a possibilidade de fundar um conhecimento certo e indubitável.
(E) a filosofia de Descartes pretende passar todo conhecimento pelo crivo da dúvida apenas para assegurar a veracidade da tradição metafísica que a precedeu.

26. O homem é a medida de todas as coisas. Das coisas que são o que são e das coisas que não são o que não são. A frase acima é atribuída a Protágoras, um dos mais celébres sofistas. A partir dela deve-se inferir que um dos traços distintivos de sua filosofia é o
(A) positivismo.
(B) relativismo.
(C) dogmatismo.
(D) humanismo.
(E) niilismo.

27. Nas práticas arcaicas, o discurso não constata o real, ele performativamente o faz ser. (...) No discurso "racional" diz-se que as coisas são tais; logo, diz-se a verdade: subordina-se a verdade ao real que ela enuncia. (...) A passagem às práticas racionais de veridicidade pode, portanto, ser descrita como uma inversão: da autoridade do mestre como abonador da realidade daquilo que ele fala à autoridade da realidade como abonadora da veridicidade do que diz o locutor.
No texto supracitado, Francis Wolff aponta uma das várias diferenças fundamentais entre o discurso racional e o discurso arcaico ou mítico. A partir dele, é correto dizer que no discurso
(A) racional a verdade e a realidade estão subordinadas a seu enunciador.
(B) mítico a verdade impõe-se a partir da realidade das coisas, a despeito do mestre que o profere.
(C) racional a verdade depende de práticas rituais que instituem a própria realidade.
(D) racional a realidade é instituída performativamente pelo elocutor.
(E) racional a verdade é subordinada à realidade das coisas que se busca descrever.

28. Descartes acreditava "nada saber" em física se não obtivesse o equivalente de uma certeza matemática. Nesse ponto, Locke toma Descartes ao pé da letra: estando estabelecido que uma tal certeza, na física, está fora de alcance, dela não podemos saber nada, propriamente falando. Essa resignação é o suficiente para mostrar que, muito embora a evidência demonstrativa não possa ser transferida para questões de fato, ela pode continuar desempenhando o papel de escala de apreciação.
Gérard Lebrun
Com base na comparação entre Locke e Descartes feita por Lebrun, é correto afirmar:
(A) Apesar de empirista, Locke mantém a posição cartesiana que situa na demonstração matemática o modelo do conhecimento por excelência.
(B) Ao reconhecer que a demonstração matemática não tem lugar na física, Locke rompe com o quadro epistemológico de Descartes.
(C) A demonstração matemática não encontra lugar no quadro epistemológico desenhado por Locke, pois ela é destituída de fundamento empírico.
(D) A física moderna, em vez da matemática, é que fornece o modelo de conhecimento tanto para o empirismo de Locke quanto para o racionalismo de Descartes, pois nela combinam-se a demonstração matemática e a testabilidade empírica.
(E) Por ter compreendido Descartes de forma literal, Locke empreendeu uma crítica superficial ao cartesianismo, limitada à mera recusa das idéias inatas.

29. Berkeley está persuadido de juntar-se à certeza dos homens ao declarar que a palavra "ser" tem dois sentidos diferentes e dois sentidos apenas: o de "perceber" e o de "ser percebido". Dizer que um espírito existe é dizer que ele percebe (e também, acrescenta Berkeley, que ele quer e age). Dizer que uma coisa existe é dizer que ela é percebida. A idéia metafísica de um ser material situado por trás do objeto e, por essa razão, inacessível deve, portanto, ser rejeitada inteiramente.
Ferdinand Alquié
Segundo o texto de Alquié, é correto afirmar:
(A) A ontologia de Berkeley o leva ao ceticismo, já que nega a existência da matéria e a validade das idéias gerais e abstratas.
(B) As duas definições propostas por Berkeley implicam a recusa da noção metafísica de matéria e da filosofia da representação.
(C) Para Berkeley, todo espírito percebe alguma coisa e, portanto, é forçoso admitir a existência da matéria.
(D) Berkeley concede um estatuto problemático à existência dos objetos da percepção, pois, para ele, o referente de nossas percepções é sempre indeterminável.
(E) A ontologia de Berkeley o inscreve na filosofia da representação, pois nossas percepções devem sempre corresponder a algo existente fora da mente.

30. Como Nietzsche indica na Genealogia da Moral, ainda que os sentimentos de "dever" e de "obrigação pessoal" tenham se originado nas mais antigas relações entre os indivíduos, as relações entre comprador e vendedor, eles foram concentrados e monopolizados no dever e na obrigação a Deus. Desde então, quanto mais se exponencia a idéia de Deus, tanto maior será, proporcionalmente, o sentimento de dever e de obrigação em relação a ele. (...) Sendo assim, pode-se prever que o triunfo completo e definitivo do ateísmo libertaria a humanidade de todo sentimento de obrigação em relação à sua origem. Desde então, é por um único e mesmo movimento que se obtém o eclipse do "tu deves" e a emancipação do "eu quero" (...).
Carlos A. R. de Moura
A partir do texto supracitado, é correto afirmar que o ateísmo de Nietzsche
(A) é apenas um corolário de sua análise da moral, não desempenhando nenhum papel central em sua filosofia.
(B) visa apenas a desconstruir a idéia de dever, sem realmente preocupar-se com a crítica à idéia de Deus.
(C) antecipa o marxismo, uma vez que, nele, a gênese do dever moral é situada nas relações entre comprador e vendedor.
(D) não implica uma mudança completa da moral, pois fica intacto o estatuto positivo para o dever.
(E) desempenha um papel estruturante em sua filosofia, uma vez que ele é um requisito para a emancipação da vontade.

31. Iniciando o estudo da percepção, encontramos na linguagem a noção de sensação, que parece imediata e clara: eu sinto o vermelho, o azul, o quente, o frio. (...) A sensação pura será a experiência de um "choque" indiferenciado, instantâneo e pontual. Não é necessário mostrar, já que os autores concordam com isso, que essa noção não corresponde a nada de que tenhamos experiência, que as mais simples percepções de fato que conhecemos, em animais como o macaco e a galinha, versam sobre relações e não sobre termos absolutos.
Maurice Merleau-Ponty
O trecho acima resume as linhas gerais da análise que o fenomenólogo Merlau-Ponty faz da percepção e, mais especificamente, da noção de "sensação", cara à filosofia moderna. A partir dele é correto inferir que:
(A) Merleau-Ponty retoma integralmente a noção moderna de sensação adaptando-a sutilmente ao quadro conceitual da fenomenologia.
(B) Merleau-Ponty nega a noção moderna de sensação, pois, para ele, não há percepção "pura" e toda a percepção inclui a apreensão de relações.
(C) Para Merleau-Ponty a noção de sensação dos modernos é apenas um erro de linguagem sem maiores conseqüências.
(D) Para Merlau-Ponty a percepção tem início com impressões sensíveis puras, desconectadas e sem relações umas com as outras.
(E) Para Merleau-Ponty nossas sensações são dadas isoladamente à percepção e as relações entre elas são estabelecidas a posteriori pela imaginação e pela fantasia.

32. E ainda que esteja decidido a falar aqui muito de figuras e números, porque não se podem pedir a nenhuma das outras disciplinas exemplos tão evidentes e tão certos, quem, no entanto, prestar atenção à minha idéia aperceber-se-á facilmente de que estou a pensar nada menos do que nas matemáticas vulgares e que exponho outra disciplina de que elas são mais roupagem do que partes. Esta disciplina deve conter efetivamente os primeiros rudimentos da razão humana e se estender para fazer brotar verdades a respeito de qualquer assunto.
René Descartes
A passagem acima refere-se a mathesis universalis que Descartes pretendia fundar e que influenciou intensamente o racionalismo moderno. A partir do mesmo texto, é correto afirmar que a disciplina a que Descartes se refere
(A) é aplicável apenas aos objetos da matemática, como grandezas numéricas e figuras geométricas.
(B) é a somatória dos métodos e resultados da aritmética e da geometria.
(C) tem escopo bastante restrito, limitando-se apenas a objetos que podem ser traduzidos em números.
(D) tem escopo de validade irrestrito, estendendo-se a todos os objetos da razão humana.
(E) deriva suas proposições da observação, da experimentação e da generalização por indução.

33. Desta maneira, a evolução não é uma simples eclosão, sem esforço e sem luta, como a da vida orgânica, mas o trabalho duro e persistente sobre si mesmo. Por outro lado, não é uma evolução no sentido formal do termo, mas a produção de um fim com um determinado conteúdo. Este fim, definimo-lo desde o início: é o Espírito tal como ele é na sua essência, o conceito de liberdade.
É correto afirmar que o texto acima é um claro exemplo de uma filosofia
(A) da história teleológica e idealista.
(B) da história materialista e dialética.
(C) da história fenomenológica e existencialista.
(D) política fundada no jusnaturalismo contratualista.
(E) política moderna e liberal.

34. Julgamos conhecer cientificamente cada coisa, de modo absoluto e não, à maneira sofística, por acidente, quando julgamos conhecer a causa pela qual a coisa é, que ela é sua causa e que não pode essa coisa ser de outra maneira.
Aristóteles
Dada essa definição de ciência que Aristóteles nos fornece nos Segundos Analíticos, é correto afirmar que, para ele, o conhecimento científico é sempre relativo
(A) à opinião.
(B) ao contingente.
(C) ao necessário.
(D) à moral.
(E) às matemáticas.

35. Segundo Kuhn, um campo científico é criado quando métodos, tecnologias, formas de observação e experimentação, conceitos e demonstrações formam um todo sistemático, uma teoria que permite o conhecimento de inúmeros fenômenos. A teoria se torna um modelo de conhecimento ou um paradigma científico. Uma revolução acontece quando o cientista descobre que os paradigmas disponíveis não conseguem explicar um fenômeno ou fato novo, sendo necessário produzir um novo paradigma (...).
Marilena Chauí
A passagem acima descreve a teoria do filósofo da ciência Thomas Kuhn que procura explicar os movimentos de transformação pelos quais passam as diversas ciências. A partir dele, devemos inferir que Kuhn é partidário
(A) da tese segundo a qual a ciência progride e evolui constante e continuamente ao longo de sua história.
(B) da tese segundo a qual as grandes transformações científicas resultam de rupturas radicais com quadros conceituais e procedimentos previamente existentes.
(C) da tese segundo a qual a história da ciência é um continuum, no qual cada nova teoria pode ser considerada como um desdobramento lógico das precedentes.
(D) da tese segundo a qual o essencial para o progresso da ciência é o desenvolvimento de métodos e a aquisição de novas tecnologias que tornem a observação mais precisa.
(E) do positivismo, pois considera a ciência como um conjunto de conhecimentos testáveis empiricamente que progride cumulativamente ao longo da história.

36. O contratualismo esteve entre as posições dominantes da filosofia política moderna.
A idéia de um contrato social que assegure a instituição de um estado liberal é característica de
(A) Maquiavel.
(B) Hobbes.
(C) Hume.
(D) Descartes.
(E) Locke.

37. Nossa época é propriamente a época da crítica, à qual tudo tem de submeter-se. A religião, por sua santidade, e a legislação, por sua majestade, querem comumente esquivar-se dela. Mas desse modo suscitam justa suspeita contra si e não podem ter pretensões àquele respeito sem disfarce que a razão somente outorga àquilo que foi capaz de sustentar seu exame livre e público.
Immanuel Kant
O texto acima resume bem o espírito inquiridor do Século das Luzes. Com base em sua leitura, é correto afirmar:
(A) O Iluminismo submete toda instituição, saber e crença à crítica racional, mas preserva intacta a religião.
(B) O Iluminismo submete todo conhecimento e todas as instituições a um exame livre e público, mas deixa intocada a legislação.
(C) Para o Iluminismo apenas a legislação e a religião são dignos de um exame crítico detido.
(D) Para o Iluminismo nenhum objeto deve escapar a um exame crítico, livre e público realizado pela razão.
(E) O Iluminismo, em sua crítica irrestrita à religião e à legislação, leva ao ateísmo e antecipa posições do anarquismo.

38. Nossa fé não é adquirida por nós, é um presente puro dado pela liberalidade de outrem. Não foi pelo raciocínio ou pelo entendimento que recebemos nossa religião, mas por autoridade e comando externos. A fraqueza de nosso juízo nos ajuda mais nesse sentido que sua força, e nossa cegueira mais do que a clareza de nossa visão. É pelo intermédio de nossa ignorância, mais do que de nosso conhecimento que aprendemos esta sabedoria divina.
Montaigne
O texto de Montaigne sintetiza uma das posições mais presentes nos debates acerca da religião ocorridos na Europa do XVI. Trata-se
(A) de uma forma de ateísmo que reúne provas da inexistência da divindade a partir da constatação das fraquezas e limitações do entendimento humano.
(B) do ceticismo puro e simples que parte da constatação da fraqueza de nossas faculdades para afirmar a necessidade de suspendermos o juízo acerca de todos os objetos da razão.
(C) do fideísmo, uma forma de validar a fé e a revelação religiosa a partir da constatação das limitações e fraquezas do entendimento humano.
(D) do teísmo que recolhe, na ordem da natureza e na estrutura de nossas faculdades, elementos que sirvam como prova da existência de Deus.
(E) de uma exposição pura e simples da ortodoxia cristã baseada unicamente na revelação e na autoridade da Igreja.

39. Correndo por todos os lados a fim de instruir, encontrei discípulos de Platão. - "Vinde conosco", disseram-me, "Estais no melhor dos mundos. Ultrapassamos nosso mestre: em sua época havia apenas cinco mundos possíveis, porque só havia cinco corpos regulares, mas atualmente, como há uma infinidade de universos possíveis, Deus escolheu o melhor."(...) Nesse momento, porém, sentindo-me atormentado por cálculos na bixiga, e sofrendo dores insuportáveis, os cidadãos do melhor dos mundos conduziram-me ao hospital vizinho. Durante o caminho, dois dos bem-aventurados habitantes foram aprisionados por criaturas semelhantes a eles. Foram postos a ferros: um, por algumas dívidas, outro, por uma simples suspeita. Não sei se fui conduzido ao melhor dos hospitais possíveis, mas fui amontoado com dois ou três mil miseráveis que sofriam como eu.
Voltaire
O texto acima, extraído de O Filósofo Ignorante, abre a crítica de Voltaire à filosofia de Leibniz que se estenderá por mais um capítulo da obra. Nele, a tese de que esse é o melhor dos mundos possíveis é contradita através
(A) da comparação irônica com Platão e da exposição dos males do mundo que atingem a todos, inclusive os defensores da filosofia de Leibniz.
(B) do recenseamento dos diversos argumentos levantados contra Leibniz ao longo dos séculos XVII e XVIII.
(C) de argumentos céticos que demonstram o dogmatismo e a arbitrariedade das teses do racionalismo leibniziano.
(D) de um retorno deliberado às doutrinas da ortodoxia católica por meio de um evidente fideísmo expresso nas opiniões do narrador.
(E) da demonstração formal da impossibilidade lógica dos pressupostos metafísicos da doutrina de Leibniz, bem como da condenação de suas conseqüências morais.

40. No século XVIII, para o ateísmo dos filósofos, suprimese a noção de Deus, mas não a idéia de que a essência precede a existência. O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente. Declara ele que há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem (...).
É sabido que Sartre considerava seu ateísmo mais completo que o de seus antecessores. A partir do texto supracitado é correto afirmar:
(A) O ateísmo sartreano é mais completo por refutar os pressupostos lógicos de todo teísmo, embora concorde com alguns de seus pressupostos metafísicos.
(B) Para Sartre, o ateísmo do século XVIII é falho porque nega a tese de que toda existência é precedida por uma essência.
(C) O ateísmo sartreano é mais completo porque não nega apenas a idéia de Deus, mas também a tese metafísica de que a essência precede a existência.
(D) O ateísmo sartreano é mais radical por retomar a argumentação dos céticos pirrônicos e voltá-la contra toda metafísica.
(E) O ateísmo sartreano é mais radical, pois, recusa tanto a tese da existência de Deus quanto a moral ligada ao cristianismo, a qual o século XVIII deixara intacta.

41. O que vemos aí é uma completa mudança de todos os valores anteriores. O mito, que estava relegado às posições inferiores, foi subitamente elevado à suprema dignidade.
Essa afirmação, retirada de O Mito do Estado (Cassirer), descreve uma forma de conceber o mito que é representativa da transição do pensamento
(A) pré-socrático para o socrático.
(B) antigo para o medieval.
(C) medieval para o moderno.
(D) iluminista para o romântico.
(E) romântico para o positivista.

42. De fato, é no plano político que a Razão, na Grécia, primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se.
Essa frase de Vernant é uma síntese de sua tese, segundo a qual
(A) a racionalidade, da forma que a conhecemos, só existe a partir da filosofia política de Platão.
(B) o surgimento da filosofia tem profunda conexão com o desenvolvimento da vida pública das cidades gregas.
(C) a preocupação com a ciência política é o ponto em comum entre as doutrinas pré-socráticas.
(D) a democracia ateniense surge como produto da ética e da filosofia política dos séculos VII e VI a. C..
(E) o desenvolvimento da Razão se deve ao intenso envolvimento político dos filósofos do período helenístico.

43. A maior parte dos primeiros filósofos considerava como os únicos princípios de todas as coisas os que são da natureza da matéria. Aquilo de que todos os seres são constituídos e de que primeiro são gerados e em que por fim se dissolvem, tal é para eles o elemento, o princípio dos seres; e por isso julgam que nada se cria nem se destrói, como se tal natureza subsistisse para sempre.
O excerto acima corresponde a
(A) um comentário apócrifo à cosmogonia de Hesíodo.
(B) uma descrição de Xenefonte sobre Sócrates e seus discípulos.
(C) uma crítica dos pitagóricos a Heráclito.
(D) uma crítica de Sócrates às filosofias que o precederam.
(E) uma síntese de Aristóteles sobre a filosofia présocrática.

44. É comum considerarmos a obra de Maquiavel como uma ruptura em relação à tradição do pensamento político greco-romano e cristão. É correto afirmar como características dessa ruptura:
(A) a secularização da política e o distanciamento de ideais normativos ético-religiosos.
(B) o recurso à experimentação científica e o abandono da ética.
(C) o distanciamento de ideais normativos éticoreligiosos e o recurso à experimentação científica.
(D) o abandono da ética e a secularização da política.
(E) o recurso à experimentação científica e a secularização da política.

45. Finalmente [...] será feito um esforço gigantesco para colocar a alétheia no lugar da doxa. Será o momento em que a filosofia em vez de ocupar-se com a origem do mundo e as causas de sua transformação, se interessará exclusivamente pelos homens, pela vida social e política.
Nesse excerto Chauí se refere a dois filósofos responsáveis por uma ruptura que mudou a orientação do pensamento filosófico grego. São eles:
(A) Tales e Anaxímenes de Mileto.
(B) Heráclito e Pitágoras.
(C) Pitágoras e Parmênides.
(D) Sócrates e Platão.
(E) Platão e Aristóteles.

46. Para uma resposta que não se pode formular, tampouco se pode formular a questão.
L. Wittgenstein
É correto afirmar que, para Wittgenstein, como decorrência,
(A) o enigma não existe.
(B) a certeza não existe.
(C) a dúvida não existe.
(D) o inefável não existe.
(E) a solução não existe.

47. A irrefutabilidade de uma teoria não é uma virtude, como freqüentemente se pensa, mas um vício.
K. Popper
A partir do trecho acima, é correto afirmar que, para Popper, as teorias
(A) só podem ser consideradas científicas se tomadas como modelos analógicos sem valor ou pretensão de verdade.
(B) só podem ser consideradas científicas depois de confirmadas por pelo menos um teste metódico.
(C) só podem ser consideradas científicas quando enunciam conjecturas cujas implicações ou conseqüências sejam passíveis de refutação através de testes.
(D) científicas constituem modelos - ou paradigmas - cuja correspondência com a realidade empírica não é possível verificar.
(E) científicas constituem um conjunto de hipóteses verificadas e aceitas como verdades históricas.

48. Quando dizemos que o prazer é o fim, não queremos referir-nos aos prazeres dos intemperantes ou aos produzidos pela sensualidade, como crêem certos ignorantes, que se encontram em desacordo conosco ou não nos compreendem, mas ao prazer de nos acharmos livres de sofrimento do corpo e de perturbações da alma.
Epicuro
A partir do trecho citado, é correto afirmar que a ética epicurista
(A) busca o equilíbrio entre os desejos sensuais e as restrições espirituais.
(B) funda sua idéia de prazer na negação do corpo em favor das alegrias do espírito.
(C) funda-se na noção de dever impessoal de negação do corpo.
(D) atribui ao corpo e à matéria a origem da infelicidade.
(E) é um hedonismo que procura aliar prazer, senso de limite e serenidade.

49. Resta, portanto, ser a "prudência" uma disposição, acompanhada de regra verdadeira, capaz de agir na esfera daquilo que é bom ou mau para um ser humano. Enquanto a produção, com efeito, tem um fim diferente de si mesmo, o mesmo não se sucede com a ação, sendo a própria boa prática seu fim.
Aristóteles
A partir da citação acima, é correto afirmar que, para Aristóteles, a
(A) ação difere da produção, pois somente a primeira pode ser considerada boa ou má.
(B) prudência é uma disposição necessária a qualquer ação, prática ou arte que seja produto do engenho humano.
(C) ação só pode ser considerada boa ou má a partir dos resultados da aplicação de seus produtos.
(D) ação política e a conduta ética são campos que exigem deliberação sobre fins, daí a importância da prudência.
(E) prudência, que inibe a coragem, é uma virtude no campo da ética, mas não no da política.

50. Com efeito, aquele que prefere conhecer por conhecer, escolherá acima de tudo a ciência por excelência, e tal é a ciência do supremo cognoscível [...]. Enfim, a ciência principal e que é superior a toda ciência subordinada, é aquela que conhece tendo em conta o fim para qual cada coisa deve ser feita, fim que é, para cada ser, seu bem e, de maneira geral, o supremo Bem no conjunto da Natureza.
Aristóteles
A partir da citação acima, é correto afirmar que o autor postula a superioridade da
(A) vida contemplativa em relação à vida ativa.
(B) política em relação à vida contemplativa.
(C) teologia em relação à filosofia.
(D) ciência em relação à teologia.
(E) ética em relação à ciência.

51. A razão humana, num determinado domínio de seus conhecimentos, possui o singular destino de se ver atormentada por questões que não pode evitar, pois lhe são impostas pela sua natureza, mas às quais não pode dar resposta por ultrapassarem completamente suas possibilidades.
A partir da leitura do parágrafo acima, é correto afirmar que, para seu autor,
(A) há questões que ultrapassam nossa capacidade de conhecer, mas que se impõem pela própria natureza da razão.
(B) o conhecimento humano é incapaz de produzir respostas racionais aos problemas impostos pela natureza.
(C) a razão humana é impotente em face dos enigmas da natureza, ainda que seja capaz de produzir conhecimento sobre si própria.
(D) a razão humana tende naturalmente para o ceticismo.
(E) a razão humana tende naturalmente para o dogmatismo.

52. Os juízos são analíticos quando a ligação do predicado o sujeito neles é pensada como identidade; mas devem chamar-se juízos sintéticos aqueles em que esta ligação é pensada sem identidade. Poder-se-ia também chamar aos primeiros explicativos, aos outros extensivos, pois os primeiros não acrescentam nada ao conceito do sujeito por meio do predicado.
Kant
É exemplo de juízo analítico:
(A) Todo homem é mortal.
(B) Sócrates é filósofo.
(C) Chove torrencialmente.
(D) Corpos têm extensão.
(E) Gosto de vinho.

53. O ponto de ruptura situa-se no dia em que (x) e (y) [...] mostraram que o "sentido" não era, provavelmente, mais do que um efeito de superfície, uma reverberação, uma espuma, e que o que nos atravessava profundamente era o sistema [ou seja] um conjunto de relações que se mantêm, se transformam independentemente das coisas que essas relações religam. Foi possível mostrar, por exemplo, que os mitos romanos, escandinavos, célticos davam origem a deuses e heróis muito diferentes uns dos outros, mas que a organização que os liga (em culturas que se ignoravam umas às outras), as suas hierarquias, as suas rivalidades, as suas traições, os seus contratos, as suas aventuras obedeciam a um sistema único.
M. Foucault
É correto afirmar que os autores (X e Y) a que Foucault se refere têm como perspectiva teórica comum o
(A) materialismo dialético.
(B) empirismo-lógico.
(C) estruturalismo.
(D) pós-estruturalismo.
(E) funcionalismo.

54. O fogo vive a morte da terra e o ar vive a morte do fogo; a água vive a morte do ar e a terra a da água.
Este excerto deve ser interpretado como um exemplo
(A) da dialética ascendente de Platão, que parte da imagem para chegar à essência ou à idéia do ser.
(B) da noção heraclitiana de um fogo primordial como princípio do devir do cosmos.
(C) das perspectivas relativistas dominantes entre os sofistas contemporâneos de Sócrates.
(D) da perspectiva empirista que caracteriza os escritos de Aristóteles.
(E) da perspectiva epicurista, que valoriza simultaneamente a alma e os sentidos.

55. Antes que se tornasse um atributo do pensamento ou uma qualidade da vontade, a liberdade era entendida como o estado do homem livre, que o capacitava a se mover, a se afastar de casa e sair para o mundo e a se encontrar com outras pessoas em palavras e ações. Essa liberdade, é claro, era precedida da liberação: para ser livre o homem deve ter-se libertado das necessidades da vida [...] A liberdade necessitava ainda da companhia de outros homens que estivessem no mesmo estado.
H. Arendt
No parágrafo acima, a autora
(A) descreve a noção kantiana de liberdade como autonomia da vontade, ou seja, como regra que cada indivíduo dá a si mesmo.
(B) contrasta as noções de liberdade em Hobbes e Rousseau, privilegiando a visão política deste último.
(C) ressalta a inovação que representa a noção cristã de liberdade em relação à tradição grega.
(D) descreve a noção generalizada a partir da modernidade que identifica liberdade com a vitória da vontade sobre o desejo.
(E) apresenta a noção de liberdade como uma experiência política cujo domínio não era a consciência, mas a esfera pública.

56. No plano do humano [...] o filósofo é o condutor. O mantenedor da justiça que deve reinar. E não tanto o que mantém a justiça quanto aquele que conduz os homens à justiça [...] à autonomia espiritual que é a consciência da relatividade do mundo sensível.
É correto afirmar que, nesse excerto, Franklin L. e Silva tem como referência a visão
(A) relativista dos sofistas e seu projeto político.
(B) platônica do papel do filósofo.
(C) agostiniana do compromisso do filósofo com a transcendência.
(D) kantiana do papel da filosofia para o esclarecimento e a autonomia.
(E) de A. Schopenhauer sobre a missão do filósofo.

57. O que há de fundamental e básico [neste caso] é a constituição reflexiva do poder da razão de representar, na instância da subjetividade, a realidade naquilo que ela tem de objetivo. E com isso se fundamenta metafisicamente a apreensão lógico-matemática do real.
É correto afirmar que, no parágrafo acima, Franklin L. e Silva refere-se à
(A) importância da filosofia de Bacon para o desenvolvimento da ciência moderna.
(B) gênese da filosofia analítica e de sua crítica às concepções correntes de linguagem.
(C) importância da filosofia da A. Comte para a posterior constituição do empirismo-lógico.
(D) concepção cartesiana de conhecimento que marca o pensamento moderno.
(E) visão da Escola de Frankfurt acerca das relações entre sujeito e conhecimento.

58. Nunca acreditei que um estudante pudesse orientar-se para a filosofia porque tivesse sede da verdade: a fórmula é vazia. É de outra coisa que o jovem tem necessidade: falar uma língua de segurança, instalar-se num vocabulário que se ajuste ao máximo às "dificuldades" (no sentido cartesiano), munir-se de um repertório de topoi, em suma, possuir uma retórica que lhe permitirá a todo instante denunciar a "ingenuidade" do "cientista" ou a "ideologia" de quem não pensa como ele.
G. Lebrun
Ao pensar o ensino de filosofia a partir dessa perspectiva, Favaretto destaca que
(A) todo aluno está apto a filosofar, já que se trata, fundamentalmente, de um exercício de retórica.
(B) a vivência dos alunos e o debate sobre suas ideologias constituem o ponto de partida de qualquer projeto atual de ensino de filosofia.
(C) os alunos, através da leitura e da interpretação filosófica, educam-se para o domínio desta linguagem.
(D) perdemos por completo a noção da história da filosofia como uma evolução na busca da verdade, restando-nos apenas a abordagem temática.
(E) a filosofia deve progressivamente voltar-se para o desenvolvimento das competências da retórica e da expressão lingüística.

59. A educação que dialoga com a tradição é o antídoto à amnésia coletiva e a instantaneidade do mundo da mídia.
Olgária Matos
É correto afirmar que, de acordo com a autora,
(A) a educação deve restaurar os métodos tradicionais de ensino a fim de resgatar o valor da autoridade.
(B) o desafio da educação contemporânea é traduzir em recursos midiáticos a tradição da filosofia.
(C) o diálogo entre a tradição e o mundo da mídia representa a grande oportunidade de renovação dos métodos escolares.
(D) enquanto a educação não superar seus métodos tradicionais, ela não trará inteligibilidade para o mundo da mídia contemporânea.
(E) o valor da tradição humanista em educação reside no seu potencial formador de um espírito capaz de pensar o presente.

60. Todos os filósofos têm em si o defeito comum de partirem do homem do presente e acreditarem chegar ao alvo por uma análise dele. Sem querer, paira diante deles "o
homem", como uma aeterna veritas, como algo que permanece igual em todo torvelino, como uma medida segura das coisas. Tudo o que o filósofo enuncia sobre o homem, entretanto, nada mais é, no fundo, do que um testemunho sobre o homem de um espaço de tempo muito limitado. Falta de sentido histórico é o defeito hereditário de todos os filósofos.
É correto afirmar que a citação acima apresenta uma visão bastante característica
(A) do jusnaturalismo dos séculos XVII e XVIII.
(B) do pensamento sofístico de Protágoras.
(C) do materialismo histórico e dialético de Marx.
(D) do iluminismo kantiano.
(E) do perspectivismo de Nietzsche.



21-C 31-B 41-D 51-A
22-D 32-D 42-B 52-D
23-B 33-A 43-E 53-C
24-E 34-C 44-A 54-B
25-A 35-B 45-D 55-E
26-B 36-E 46-A 56-B
27-E 37-D 47-C 57-D
28-A 38-C 48-E 58-C
29-B 39-A 49-D 59-E
30-E 40-C 50-A 60-E

Nenhum comentário: