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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

UFU 2009/2 2a Fase: Parmênides

PRIMEIRA QUESTÃO

Parmênides de Eléia apresenta, em seu Poema, três possíveis vias de pesquisa. A primeira, que considerou a única absolutamente verdadeira (Via da Verdade); a segunda, que considerou falsa, porque impensável e inexprimível (Via do Não-ser); e uma terceira, que concebeu como verossímil, das aparências oferecidas aos sentidos dos Homens (Via da

Opinião).

Leia o texto abaixo e responda as questões que se seguem, com base na filosofia de Parmênides.

“Só um caminho de que falar nos restou, o É. Neste caminho estão numerosos indícios

de que o que É é incriado e indestrutível, pois é completo, imóvel. (...)

Nem é ele divisível, uma vez que é todo análogo e não existe mais dele em um lugar do

que em outro, para impedi-lo de manter-se unido, nem menos dele, mas tudo está repleto do

que é.” PARMÊNIDES, Poema In. DK, fragmento 8.

A) O trecho apresentado refere-se a qual das três vias de pesquisa propostas pelo filósofo?

B) Transcreva três adjetivos encontrados no trecho do Poema e explique-os, com base na doutrina do Ser de Parmênides.



UFU 2009/2: Parmênides

QUESTÃO 01

Leia o texto abaixo:

“Afasta o pensamento desse caminho de busca e que o hábito nascido de muitas experiências humanas não te force, nesse caminho, a usar o olho que não vê, o ouvido que retumba e a língua: mas, com o pensamento, julga a prova que te foi fornecida com múltiplas refutações. Um só caminho resta ao discurso: que o ser existe.”

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: filosofia pagã antiga. Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 35.

Com base no pensamento de Parmênides, assinale a alternativa correta.

A) Os sentidos atestam e conduzem à verdade absoluta do ser.

B) O ser é o eterno devir, mas o devir é de alguma maneira regido pelo Logos.

C) O discurso se move por teses e antíteses, pois essas são representações exatas do devir.

D) Quem afirma que “o ser não existe” anda pelo caminho do erro.



terça-feira, 27 de março de 2007

Questões de Vestibular: Pré-socráticos Heráclito e Parmênides

1) (UFU-1ª Fase Janeiro de 1999)Parmênides de Eléia, filósofo pré-socrático, sustentava que

I- o ser é.

II- o não-ser não é.

III- o ser e o não-ser existem ao mesmo tempo.

IV- o ser é pensável e o não-ser é impensável.

Assinale

A) se apenas I, III e IV estiverem corretas.

B) se apenas I, II e III estiverem corretas.

C) se apenas II, III e IV estiverem corretas.

D) se apenas I, II e IV estiverem corretas.

E) se todas as afirmativas estiverem corretas.

2) (UFU- 1ª Fase Janeiro de 1999)Heráclito de Éfeso, filósofo pré-socrático, compreendia que

I- o ser é vir-a-ser.

II- o vir-a-ser é a luta entre os contrários.

III- a luta entre os contrários é o princípio de todas as coisas.

IV- da luta entre os contrários origina-se o não-ser.

Assinale

A) se apenas I, II e III estiverem corretas.

B) se apenas I, III e IV estiverem corretas.

C) se apenas II, III e IV estiverem corretas.

D) se apenas I, II e IV estiverem corretas.

E) se todas as afirmativas estiverem corretas.

3) (UFU_Setembro de 2002)

“Só resta o mito de uma via, a do ser; e sobre esta existem indícios de que sendo não gerado é também imperecível, pois é todo inteiro, inabalável e sem fim; nem jamais era nem será, pois é agora todo junto, uno, contínuo (…)” Sobre a Natureza, 8, 2-5

A partir deste trecho do poema de Parmênides, é possível afirmar que

A) a continuidade, a geração e o imobilismo estão presentes na via do ser.

B) o ser, por não poder não ser, não é gerado nem deixa de ser, não tendo princípio nem fim.

C) a via do ser é aquela percebida pelos nossos sentidos.

D) o ser, para o autor, de certo modo não é, pois nunca foi no passado nem será no futuro.

4) (UFU-Julho de 2003 1ª Fase ) “Só é possível pensar e dizer que o ente é, pois o ser é, mas o nada não é; sobre isso, eu te peço, reflita, pois esta via de inquérito é a primeira de que te afasto; depois afasta-te daquela outra, aquela em que erram os mortais desprovidos de saber e com dupla cabeça, pois, no peito, a hesitação dirige um pensamento errante: eles se deixam levar surdos e cegos, perplexos, multidão inepta, para quem ser e não ser é considerado o mesmo e não o mesmo, para quem todo o caminho volta sobre si mesmo”.

Parmênides, Sobre a Natureza, 6, 1-9.

Sobre este trecho do poema de Parmênides, é correto afirmar que

I - só se pode pensar e dizer que o ser é.

II - para os mortais o ser é considerado diferente do não ser.

III - é possível dizer o não ser, embora não se possa pensá-lo.

IV - duas vias de inquérito devem ser afastadas: a do não ser e a dos mortais.

Assinale a alternativa que contém todas as afirmações corretas.

A) II e III

B) II e IV

C) I e III

D) I e IV

5) (UFU-2000 2ª fase)"Para os que entram nos mesmos rios, correm outras e novas águas. (...) Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio".

(Heráclito. Pré-socráticos, Col. Os Pensadores, Abril Cultural, 1978)

"Necessário é dizer e pensar que só o ser é, e o nada, ao contrário, nada é: afirmação que bem deves considerar".

(Parmênides. Pré-socráticos. Col. Os Pensadores, Abril Cultural, 1978)

A partir dos fragmentos acima, estabeleça as principais diferenças entre as concepções do ser de Heráclito e de Parmênides.


6) (UFU 2ª Fase Março de 2002) “Ao Logos, razão e palavra do que sempre é, os homens são incapazes de compreendê-lo, tanto antes de ouvi-lo quanto depois de tê-lo ouvido pela primeira vez, porque todas as coisas nascem e morrem segundo este Logos. Os homens são inexperientes, mesmo quando eles experimentam palavras ou atos tais quais eu corretamente os explico segundo a natureza, separando cada coisa e explicando como cada uma se comporta. Enquanto isso os outros homens esquecem tudo o que eles fazem despertos assim como eles esquecem, dormindo, tudo o que eles vêem.”

Adaptado de HERÁCLITO. Pré-Socráticos. Coleção “Os Pensadores”. São Paulo: Abril Cultural , 1978. p. 79.

A partir do aforisma de Heráclito, responda às questões propostas:

A) Heráclito pode corretamente ser caracterizado como um filósofo empirista, cuja fonte de conhecimento se encontra nas sensações?

B) Qual é o fundamento permanente de todo conhecimento e quem, segundo o texto, corretamente o conhece e o enuncia?

Justifique as duas respostas com trechos do texto acima de Heráclito.


7) (UFU-Janeiro de 2004)

.Do arco o nome é vida e a obra é morte..

(HERÁCLITO. Sobre a natureza. Trad. de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 56. Coleção .Os Pensadores..)

Este fragmento ilustra bem o pensamento de Heráclito, que acreditou ser o mundo o eterno fluir, comparado a um rio no qual .entramos e não entramos.. Assinale a alternativa que explica o fragmento mencionado acima.


A) Todas as coisas estão em oposição umas com as outras, o que explica o caráter mutável da realidade. A unidade do mundo, sua razão universal resulta da tensão entre as coisas, daí o emprego freqüente, por parte de Heráclito, da palavra guerra para indicar o conflito como fundamento do eterno fluxo.

B) A harmonia que anima o mundo é aberta aos sentidos, sendo possível ser conhecida na multiplicidade daquilo que é manifesto, uma vez que a realidade nada mais é que o eterno fluxo da multiplicidade do Logos heraclitídeo.

C) A unidade dos contrários, a vida e a morte, é imóvel, podendo ser melhor representada para o entendimento humano por intermédio da imagem do fogo, que permanece sempre o mesmo, imutável e continuamente inerte, e não se oculta aos olhos humanos.

D) O arco, instrumento de guerra, indica que a idéia de eterno fluxo, das transformações que compõem o fluxo universal, é o fundamento da teoria do caos, pois o fogo se expande sem medida, tornado a realidade sem nenhuma harmonia ou ordem.


8) (UFU-Dezembro de 2004) Os fragmentos abaixo representam três temas fundamentais que configuram o pensamento de Heráclito de Éfeso.

“O deus é dia noite, inverno verão, guerra paz, saciedade fome; mas se alterna como fogo, quando se mistura a incensos, e se domina segundo o gosto de cada.” Fr. 67.

“Por fogo se trocam todas (as coisas ) e fogo por todas, tal como por ouro mercadorias e por mercadorias ouro”. Frag. 90


A partir das citações acima:

A)Explicite quais são seus temas

B) Comente cada um deles de modo a caracterizar a filosofia de Heráclito

9) (UFU-Janeiro de 2004)

Parmênides (c. 515-440 a.C.) deixou seus pensamentos registrados no poema Sobre a natureza, do qual restaram apenas fragmentos cultivados pelos filósofos do mundo antigo, uma das passagens célebres preservadas é a seguinte:

“Necessário é o dizer e pensar que (o) ente é; pois é ser,
e nada não é; isto eu te mando considerar.
Pois primeiro desta via de inquérito eu te afasto,
mas depois daquela outra, em que mortais que nada sabem
erram, duplas cabeças, pois o imediato em seus
peitos dirige errante pensamento; (...).”

PARMÊNIDES. Sobre a natureza. Trad. de José Cavalcante de Souza.São Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 88. Coleção .Os Pensadores..

Analise as assertivas abaixo.

I . A opinião humana busca o que é (ser) naquilo que não é (ser).

II . O mundo dos sentidos é (ser), portanto, o único digno de ser conhecido.

III . Não se pode dizer .não-ser é., porque .não-ser. é impensável.

IV . Dizer .não-ser é não não-ser., é o mesmo que afirmar .não-ser não é..

Assinale a alternativa que contém as assertivas corretas.

A) I e III

B) II e III

C) II e IV

D) I e IV

10) (UFU Julho de 2004) O fragmento a seguir é atribuído a Heráclito de Éfeso:

“O mesmo é em (nós?) vivo e morto, desperto e dormindo, novo e velho; pois estes, tombados além, são aqueles e aqueles de novo, tombados além, são estes” HERÁCLITO. Sobre a natureza. Trad. de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 93. Coleção .Os Pensadores..

A partir do fragmento citado, escolha a alternativa que representa melhor o pensamento de Heráclito.

A) Não existe a noção de “oposto” no pensamento de Heráclito, pois todas as coisas constituem um único processo de mudança que expressa a concórdia e a harmonia do “fluxo” contínuo da natureza.

B) a equivalência de estados contrários com o mesmo exprime a alternância harmônica de pólos opostos, pela qual um estado é transposto no outro, numa sucessão mútua, como o dia e a noite. Todas as coisas são “Um”, toda a multiplicidade de opostos constitui uma unidade, e todos os seres estão em um fluxo eterno de sucessão de opostos em guerra.

C) Se o morto é vivo, o velho é novo, e o dormente é desperto, então não existe o múltiplo, mas apenas o “Um”, como verdade profunda do mundo. A unidade primordial é a própria realidade da physis, e a multiplicidade, apenas aparência.

D) a alternância entre pólos opostos constitui um fluxo eterno, regido pela “guerra” e pela discórdia, que ocorre sem qualquer medida ou proporção. A guerra entre contrários evidencia que a physis é caótica é denota o fato de que o pensamento de Heráclito é irracionalista.

11)(UFU-Julho de 2004) A relação entre mito e logos pode ser ilustrada a partir do seguinte fragmento do poema Sobre a Natureza de Parmênides:

“e a deusa me acolheu benévola

Mão direita tomou e assim dizia e me interpelava:
Ó jovem, companheiro de aurigas imortais
Tú que assim conduzido chega à nossa morada,
Salve! Pois não foi mal destino que te mandou perlustrar
Essa via (pois ela está fora da senda dos homens)...”

Após ler o fragmento, escolha a alternativa que melhor representa a arelação mito-logos nas origens da filosofia:

A) a verdade filosófica aparece no poema de Parmênides como revelação divina e experiência mística, que são incompatíveis com o pensamento filosófico racional. A deusa do poema mostra que o conhecimento supremo esta fora do alcance da razão humana.

B) A verdade filosófica no poema de Parmênides, é apresentada por meio de representações míticas que o filósofo retira de uma tradição religiosa. Essas imagens se traspõem, sem deixar de ser místicas, em uma filosofia do ser que busca o objeto inteligível do logos, ou seja, do pensamento racional e do Uno.

C) A verdade filosófica, por ser revelação da deusa, é obtida apenas por experiência religiosa. As representações míticas do poema de Parmênides indicam que a filosofia grega do séc. V a.C. é irracional, pois não usa de categorias lógicas do rigor argumentativo.

D) A filosofia representa o pensamento estritamente racional, que busca uma explicação do mundo somente por meios materiais. Por essa razão, o poema de parmênides ainda não representa o pensamento filosófico do século V a.C., caracterizado por uma ruptura com todas as imagens míticas da tradição cultural grega.

12) ( UFU-2003 2ª Fase Fevereiro)“Vou explicar-me, e não será argumento sem valor, a saber: que nenhuma coisa é una em si mesma e que não há o que possas denominar com acerto ou dizer como é constituída. Se a qualificares como grande, ela parecerá também pequena; se pesada, leve, e assim em tudo o mais, de forma que nada é uno, ou algo determinado ou como quer que seja. Da translação das coisas, do movimento e da mistura de umas com as outras é que se forma tudo o que dizemos existir, sem usarmos a expressão correta, pois em rigor nada é ou existe, tudo devém. Sobre isso, com exceção de Parmênides, todos os sábios (…) estão de acordo: Protágoras, Heráclito e Empédocles (…)”. Platão. Teeteto. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2001, p. 50.

Tendo em vista o trecho de Platão citado acima, explique, a partir da distinção entre o uno de Parmênides e o devir de Heráclito, por que no mobilismo nada é e por que para Parmênides apenas o Ser é.

Heráclito, Parmênides e os caminhos do ser - Gonçalo Armijos Palácios

A lembrança de Heráclito nos faz pensar sobre o nosso ser. Quem somos? Os de ontem, os de hoje, os de amanhã... os de nunca?




Há trechos no Poema de Parmênides que mostram um tom polêmico. O objeto de suas críticas era Heráclito e sua teoria do ser. Uma teoria do ser na qual vemos a coincidência dos opostos. A coincidência entre ser e não-ser. Esta talvez é a primeira grande discussão metafísica da filosofia ocidental. O primeiro embate filosófico, lembre-se, deu-se entre os filósofos físicos, Tales e Anaximandro, e teve como objeto a questão da natureza do cosmo.

As diferenças entre Heráclito e Parmênides perpassam o físico e inundam a essência mesma de todas as coisas. Mais ainda, o substrato de tudo, as propriedades íntimas de tudo o que é: o âmago do ser.

Qual é esse substrato e em que consiste esse âmago metafísico? Segundo Heráclito, consiste em que tudo seja e não seja. Em que todo caminho de ida seja um caminho de volta. E há indícios de que tudo seja como ele diz? Talvez muitos. Nós mesmos, para começar. Nós que um dia fomos crianças, nós que já não o somos. Nós que um dia fomos o que já não somos e que necessariamente não somos ainda o que seremos depois. Nós que, mesmo não sendo as crianças que fomos, as guardamos em algum lugar do nosso ser. Porque quem são essas crianças que já não somos senão nós mesmos? E quem são aqueles anciãos que ainda não somos senão, mais uma vez, nós mesmos? E que é a vida a não ser, num sentido, um caminho de volta ao momento inicial de um nada que nos envolvia nas brumas do não-ser? Que é nossa vida senão esse fugir constante em busca de um futuro próximo e distante que inabalável nos aguarda? E que é o presente senão o instante efêmero em que o futuro foge para o passado? E que é o tempo senão um eterno espremer-se de instantes fugidios que escapam do futuro e procuram seu passado? Somos isso, nós e as coisas.

Mas nesse fogo eternamente aceso que é o ser que nos consome, e ao nos consumir nos realiza, tentamos perseverar, ficar, querendo aprisionar no presente aqueles momentos que nos enganam na sua volátil presença. Porque cada aspecto foge de nós, para sempre, quando piscamos, quando viramos o rosto, quando exalamos e inalamos. Exalamos o que acabamos de ser inalando aos poucos quem seremos. Inadvertidamente. E assim deixamos escapar nossos “somos” que desapercebidos viram “fomos” ficando perplexos com os “seremos” que vão nos invadindo e que, dia após dia, mês após mês, ano após ano, subitamente, descobrimos no espelho. Esse desconhecido que nos mira e no qual devemos nos reconhecer.

Quem realmente somos? Quem estamos sendo e quem queremos ser? Não sabemos. A vida é um constante esforço por reconhecer essa pessoa que nos olha impávida do outro lado do espelho e que jamais mente. Que não oculta que o que achamos ser não é mais, que não está mais ali, nem como uma mera imagem, nem sequer como lembrança. Pois a esse eterno escorregar de instantes estamos submetidos; e cada gota, e cada segundo, e cada instante é a gota que cai num lago que não respinga, é um segundo de um relógio que não clica e o instante de um momento que não parece ter começo nem fim e que nos ilude no seu aparente permanecer.

Mas as aparências nos iludem e ainda pretendemos ser o que já fomos e achamos já ser o que seremos. Mas não somos mais quem fomos e ainda não somos quem seremos. As aparências nos iludem e pensamos que somos sempre nós, idênticos, na unidade e na permanência enganosa da nossa curta história. E nos confundimos sendo aquele conjunto disforme de lembranças e planos e projetos. E não sabemos se somos nós os que proferimos, os que prometemos, os que conjuramos. Não sabemos se somos os que sofremos ou os que temos esperanças. Os iludidos, os fracassados ou os bem-sucedidos e abençoados. Quem somos dentro desse labirinto de instantes, de desejos e frustrações, de fantasias e temores? Quem realmente? Será que nos preocupamos mais pelo que somos ou pelo que aparecemos. Os que aparecemos perante nós e nossas consciências ou aqueles que aparecem para os outros. Os transparentes ou os mascarados.

Caminhamos por sendeiros que não sabemos aonde nos levam, mas sabemos bem de que lugar nos trazem. Pois desses lugares nos afastamos irremediavelmente, para bem ou para mal. E assim, à medida que passa o tempo vamos nos distanciando de quem um dia fomos, de quem um dia quisemos ser, de quem, provavelmente, nunca chegaremos a ser. E a nostalgia da perda e a frustração do fracasso farão parte, mais uma vez, dos nossos peitos errantes e se instalarão em nossos corações desiludidos. Ou, quiçá, não...

Porque lutamos em permanecer e lutamos por ser. Insistimos em ser quem queremos ser, quem talvez já fomos e quem ainda seremos. E, assim, vamos lutando, sem perceber, para nos mantermos fiéis ao nosso passado ou ao nosso futuro, às nossas conquistas ou às nossas fantasias, felizes, infelizes, confiantes, duvidosos... Nem santos nem demônios, nem heróis nem vilões, apenas nós, seres condenados a ser, deixar de ser e vir a ser ou, que é pior, a nunca ser, a jamais deixar de ser nem, algum dia, vir a ser...

GONÇALO ARMIJOS PALÁCIOS, filósofo e professor da UFG, é articulista do Jornal Opção. Esse texto foi retirado de sua coluna Idéias, disponível no site www.jornalopcao.com.br

O poema de Parmênides e o problema do não-ser - Gonçalo Armijos Palácios


A refutação do velho Parmênides, levada a cabo por Platão, consistiu em provar a impossibilidade de que só o ser é, demonstrando-se a necessidade da existência do ser e do não-ser

Se pensamos em tudo o que existe e necessariamente deve existir, e perguntamos sobre suas propriedades essenciais, nos afastamos do plano imediato das coisas sensíveis. Pois muitas coisas são ou existem, além das visíveis. Ao perguntarmos pelas propriedades essenciais de tudo que existe, de tudo que é, de tudo que há, levantamos questões metafísicas. Um dos mais provocativos e difíceis textos filosóficos, escrito aproximadamente 500 anos antes de Cristo, é o célebre Poema de Parmênides. Nele se discutem, em linguagem metafórica, duas questões centrais à filosofia: a natureza do ser e a questão do não-ser. É, pois, um dos primeiros textos metafísicos.

No seu poema, Parmênides afirma que o que é só pode ser, e o que absolutamente não é, absolutamente não pode ser. Mas, ao mesmo tempo, estabelece uma distinção entre essência e aparência, pois reconhece que as aparências envolvem todas as coisas. O ser das coisas, assim, está oculto pelas suas aparências.

Nos artigos anteriores tenho discutido algumas passagens de Platão que encontramos no diálogo O Sofista. Esse diálogo está diretamente motivado pelos problemas que surgem da tese radical de Parmênides de que o ser é e o não-ser não é. E tudo isso, por sua vez, diz respeito à relação entre dialética e sofística. Vejamos por quê.

Se Parmênides estivesse completamente certo ocorreria o seguinte: tudo passaria a ser. Com efeito, atribuir não-ser às coisas seria impossível. Que significa atribuir não-ser as coisas? Dizer, por exemplo, “isso não é”, ou “isso não é assim”. Ora, nós usamos a toda hora esse tipo de expressões, pois sabemos que as coisas são de certas maneiras e não são de outras. Nós mesmos somos de um jeito mas não somos de todos os jeitos possíveis. A verdade e a falsidade, perceba-se, dependem da existência tanto do ser como do não-ser. Pois se as coisas não são de uma certa maneira, afirmar que são dessa maneira seria falso. Para que o falso seja possível, as coisas só podem ser de determinados modos e, ao mesmo tempo, não ser de muitos outros. Mas Parmênides, no seu célebre poema, adverte: “Jamais obrigarás os não-seres a ser”. O não-ser, ele mantinha, é impensável e indizível.

Platão, na sua juventude, acreditava nessas teses metafísicas de Parmênides sem perceber os problemas que elas implicavam. Mas, com o passar do tempo e a ajuda dos sofistas, percebeu seu erro e se viu forçado a se afastar do seu mestre, do “Pai Parmênides”, como o chama no mencionado diálogo. O que as teses de Parmênides implicavam não era outra coisa que a destruição do próprio conhecimento. Vejamos como.

Com efeito, se só o ser é, ou, então, se tudo o que é, é, obviamente que tudo o que alguém poderia dizer passaria imediatamente a ser verdadeiro. É impossível sequer pensar o não-ser, dizia Parmênides, pois o pensamento e o ser estão intimamente ligados. Aliás, são idênticos. Pensar e ser são a mesma coisa. Para entender isso peço que se imagine um cavalo alado. Se o leitor e eu estamos pensando num cavalo alado, é óbvio que tal cavalo alado de alguma maneira existe, de alguma maneira é. Está sendo objeto do nosso pensamento. Mesmo que exista como um produto da nossa fantasia, como uma figuração da nossa imaginação, ele é. De maneira análoga, não posso dizer “Chapeuzinho Vermelho não existe” ou “não é”. O Chapeuzinho Vermelho é, mesmo que seja como um ente fictício. Se é verdade que o pensar está intimamente atrelado ao ser e só ao ser e que, por outro lado, é impossível pensar o não-ser, então tudo o que possa ser pensado passa a ser, pelo mero fato de ser pensado. A conseqüência disso tudo é que uma vez pensada ou dita qualquer coisa, pelo fato de ser pensada e dita assume estatuto definitivo como parte do ser. Desse modo, tudo o dito passa a ser verdadeiro. Por quê? Porque se eu digo que Chapeuzinho Vermelho é desobediente e alguém me dissesse que isso é falso, que Chapeuzinho Vermelho não existe, eu poderia dizer: quem não existe? Mas se a pessoa responde “o Chapeuzinho Vermelho”, eu retrucaria: “você acabou de mencionar e ainda nomear algo que diz que não existe, mas se o mencionou e ainda nomeou, então existe, seja do jeito que for! Para nomear algo esse algo deve, de alguma maneira, ser”.

Que tem tudo isso a ver com Platão? Que os sofistas se amparavam na tese de Parmênides para provar que tudo o que eles diziam era verdadeiro. Se Platão, por exemplo, discutindo com eles concluía que o que eles diziam era falso e que, portanto, não era, eles podiam retrucar: “como ‘falso’ se o não-ser, como dizia Parmênides, absolutamente não é?”

Assim como antigamente, hoje também podemos encontrar textos e ouvir palestras que se escondem na impossibilidade do não-ser, pois se baseiam na tese de que tudo o que se diz, se escreve ou se ensina aos alunos é. Como desmascarar os sofistas de ontem e hoje? Com a velha dialética. Mas como, se o debate que busca a verdade e quer mostrar o erro é evitado a qualquer custo?


GONÇALO ARMIJOS PALÁCIOS, filósofo e professor da UFG, é articulista do Jornal Opção. Esse texto foi retirado de sua coluna Idéias,

disponível no site www.jornalopcao.com.br





Entre Parmênides e Einstein - Gonçalo Armijos Palácios

A discussão pública, que busca a verdade e não a autopromoção, é até hoje o modo como se faz filosofia naquelas partes do mundo em que ela está viva; nos outros lugares, suprimiu-se a figura do debatedor

Seja como for definida a filosofia, não se pode negar que ela nasce como uma busca pela verdade. Depois, filósofos importantes chegaram a pensar que a verdade era inatingível, mas, paradoxalmente, no mesmo instante em que proferiam tal sentença pretendiam dizer uma verdade incontestável. Porque, de uma ou de outra maneira, seja no nível em que nos situemos, gostaríamos de evitar o erro e de chegar à verdade sobre as coisas. O ser humano poderia ser definido como o único animal que conscientemente se debate na luta entre o certo e o errado. Talvez por isso chegamos a ser o que hoje somos. Com os antigos não foi diferente. Assim, os primeiros filósofos opuseram o conhecimento à mera crença e foi assim como a filosofia se constitui no seu início.

Gosto de Xenófanes talvez por isso, por ter sido um dos primeiros filósofos que se preocupou claramente com a questão da verdade e do conhecimento. Pois, em poucas palavras, tudo se reduz à diferença entre o que é e o que não é. E ninguém parece que foi tão enfático sobre a importância dessa diferença como Parmênides. “Jamais obrigarás os não-seres a ser”, advertia. Ou, para dizê-lo de outro modo: não confundas o que é com o que não é. Daí suas famosas fórmulas: o que é, é; o que não é, não é! E conhecer implica saber os dois: saber o que é e distingui-lo do que não é.

Várias são as formas pelas quais os filósofos acreditaram que se chega ao conhecimento. Uma delas nos interessa aqui e é uma das maneiras que existe desde os antigos gregos: o diálogo, a oposição de idéias.

Vejo Parmênides irritado com os que faziam uma interpretação vulgar de Heráclito como é irritante hoje ouvir das pessoas, sem ter a menor idéia do que Einstein disse, que “tudo é relativo”. Imaginam que Einstein teria construído uma teoria física tão importante baseado na idéia tola e completamente falsa de que “tudo é relativo”. De maneira análoga, Heráclito dizia que tudo era e não era. Mas suas teses foram interpretadas no mais errôneo dos sentidos e Parmênides fez o possível para chamar a atenção para o fato de que, sob o ponto de vista lógico, o que é só pode ser, e que o que absolutamente não é, simples e absolutamente não pode ser. Assim, se quatro é o dobro de dois, então é absolutamente necessário que quatro não possa ser igual ou menor a dois. Do mesmo modo, se alguma coisa diz a célebre fórmula de Einstein (E=mc² ), então é isso que quer dizer e não outra coisa. E, o que é mais importante, se E=mc² é verdadeiro, então E=mc2 é falso. Podemos considerar inúmeros exemplos da física ou da astrofísica: se é verdade que o universo está em expansão, então isso é absolutamente verdadeiro e dizer o contrário é completamente falso. Se é verdade que as galáxias estão se afastando umas das outras, então é falso dizer que se estão aproximando. Nada há de relativo nisso, ou o universo está em expansão, ou está estático ou está regredindo sobre si próprio. Juntemos agora, maravilhosamente, Parmênides e Einstein: se o universo tem um conjunto determinado de propriedades, então tem essas propriedades e não outras. Mais ainda: se é essencial ao universo ter determinadas propriedades, então é necessário que as tenha, o que faz do universo o que é, e só o que é. Portanto, Parmênides e Einstein de novo: o universo, o ser, são o que são, e não poderiam ser, absolutamente, o que não são!

O que estamos tentando fazer, lembre-se, é estabelecer a distinção entre dialética e sofística, entre filosofia e pseudo-saber. Ora, não é uma distinção que já tenha desaparecido. A distinção entre filósofos e sofistas ainda subsiste, só que os sofistas tomam diversas formas e é difícil reconhecê-los. Aliás, sempre foi. E foi para dar subsídios para reconhecê-los que Platão escreveu o diálogo que nos ocupa desde o artigo anterior: O Sofista.

O termo ‘dialética’ chegou a ter muitos significados. Hoje tem tantos, com efeito, que eu mesmo praticamente nunca o uso. Aliás, por muito tempo fiz questão de não empregá-lo em artigos ou em sala de aula. Nestes artigos abro uma exceção porque o estou usando no seu significado original, como era empregado pelos antigos gregos e, principalmente, como é usado nos diálogos de Platão. A dialética, como Platão emprega o termo, é a busca racional da verdade baseada no diálogo, no debate de idéias entre dois ou mais interlocutores cujo interesse seja realmente o conhecimento e não a exibição pessoal ou qualquer outro objetivo. Tal exercício dialético, portanto, não pode ocorrer entre quaisquer interlocutores. Deve ocorrer entre aqueles que sinceramente procuram a verdade e o conhecimento. Não podemos discutir, portanto, com aqueles que acham que sempre estão certos. Tampouco com aqueles que falam de um jeito tão complicado que seguramente nem eles mesmos se entendem. A clareza, penso, e faço questão de frisar isto, é sinal de honestidade intelectual. Essa honestidade intelectual da qual os antigos filósofos dão tantas provas.

No Sofista, como tínhamos visto, um interlocutor vindo de Eléia, o Estrangeiro, é instado a dizer qual é a diferença entre o sofista, o filósofo e o político. Antes, porém, querem saber a forma como será levada a discussão. Aqui há uma intervenção de Sócrates em que há uma referência ao método de Parmênides. Dirigindo-se ao Estrangeiro, diz: “Mas dize-nos antes se, de costume, preferes desenvolver toda a tese que queres demonstrar numa longa exposição ou empregar o método interrogativo de que, em dias distantes, se servia o próprio Parmênides ao desenvolver, já em idade avançada, e perante mim, então jovem, maravilhosos argumentos?”¹ Se esta intervenção de Sócrates não é um mero recurso literário de Platão mas uma maneira de referir um fato ocorrido, então Sócrates deve ter se inspirado para sua maiêutica no método interrogativo de Parmênides. Isso é muito provável já que os antigos gregos se caracterizaram por ser uma cultura que, como poucas, privilegiou a discussão e o debate públicos e certamente Sócrates não foi quem inaugurou essa tradição. A resposta do Estrangeiro é significativa: “Tenho receio, Sócrates, aparecendo agora frente a vós pela primeira vez, de conversar não mediante pequenos diálogos mas desenvolvendo um longo discurso por mim mesmo, seja frente a outro, seja como se fizesse uma demonstração”. (217e) A vantagem do diálogo é que, aos poucos, os presentes podem perceber como se chega a determinadas conclusões e por que se aceita certas teses e não outras. Para isso, o diálogo é o melhor caminho. O longo discurso, a longa demonstração, não necessariamente esclarecem a origem de certas teses nem como foram fundamentadas certas afirmações. O diálogo, o debate aberto bem-intecionado, portanto, são um excelente caminho para chegarmos com segurança a conclusões bem estabelecidas. Isso ocorre desde os gregos. Nos lugares em que hoje se faz filosofia, os periódicos especializados estão cheios de discussões, debates, objeções, respostas às objeções, réplicas e tréplicas. O artifício sofístico contra quem quer fazer filosofia, hoje, consiste em ignorar a discussão ou suprimir a figura do debatedor.


1 O Sofista, 217 c. In: Platão, Diálogos. São Paulo: Abril Cultural, 1972. (Col. Os Pensadores)

GONÇALO ARMIJOS PALÁCIOS, filósofo e professor da UFG, é articulista do Jornal Opção. Esse texto foi retirado de sua coluna Idéias, disponível no site www.jornalopcao.com.br .