Pesquisa personalizada

domingo, 2 de janeiro de 2011

Prova e Gabarito - Professor de Filosofia - Prefeitura Municipal de Cariacica - ES - Universidade Federal Fluminense - UFF - 2009


Prova e Gabarito - Professor de Filosofia - Prefeitura Municipal de Cariacica - ES - Universidade Federal Fluminense - UFF - 2009  
CONHECIMENTO ESPECÍFICO

21. Desde Tales de Mileto, as explicações sobre o cosmos são realizadas por meio de argumentos, razões plausíveis para que o processo desencadeado pela physis se comporte de determinada maneira. Tais argumentos são confrontados por outros filósofos e, progressivamente, as concepções tornam-se cada vez mais elaboradas. Dessa forma, o pensamento filosófico que emerge nesse movimento distancia-se do pensamento mítico, entre outras razões, porque:
A) inaugura o primado da transformação permanente pela interferência contínua dos deuses na criação do cosmos;
B) busca uma physis arcaica e antropomórfica, que une o homem ao cosmo sem sua estabilidade;
C) apresenta uma visão de mundo com base racional que pode ser repensada por meio de argumentação e substituída;
D) descreve uma cosmogonia inovadora racionalizada por meio de ritos simbólicos criados pela ação do homem;
E) as narrativas mágico-religiosas são substituídas por outra linguagem mágico-simbólica para representar o sagrado.

22. Podem-se considerar como três das características básicas da ciência moderna, em contraposição à filosofia clássica e ao pensamento teológico cristão:
A) controle técnico da natureza, método experimental, quantificação dos fenômenos;
B) reflexão sobre o homem e o mundo, aliança com a técnica, verdades inquestionáveis;
C) rigor intelectual, método empírico-dedutivo, harmonização entre razão e fé;
D) hipóteses confrontadas com a realidade, verdades absolutas, narrativas matemáticas;
E) linguagem matemática, método experimental e impossibilidade de refutação

23. Para Aristóteles, o ser é a substância, cada indivíduo particular constituído por uma forma, que responde pela essência imutável do ser, unida à matéria, que garante o movimento, a diversidade, a transformação.Assim sendo:
A) o ser existe primeiramente como a essência expressa em sua forma;
B) matéria e forma determinam a existência do ser como um composto;
C) o que define o ser é exclusivamente sua essência;
D) o ser depende de uma causa final e uma causa formal excludentes;
E) a substância é causa do ser enquanto ser, e exclui o dever.

Leia o texto abaixo e responda às questões 24, 25 e 26.
"O homem faz-se; ele não está pronto logo de início; ele se constrói escolhendo a sua moral; e a pressão das circunstâncias é tal que ele não pode deixar de escolher uma moral. Só definimos o homem em relação a um engajamento. (...) Se alguma vez o homem reconhecer que está estabelecendo valores, em seu desamparo, ele não poderá mais desejar outra coisa, a não ser a liberdade como fundamento de todos os valores. Isso não significa que ele a deseje abstratamente. Mas, simplesmente, que os atos dos homens de boa fé possuem como derradeiro significado a procura da liberdade enquanto tal".
(SARTRE. O existencialismo é um humanismo.)

24. A passagem transcrita do texto que indica o princípio existencialista, pelo qual a existência precede a essência é:
A) "os atos dos homens de boa fé possuem como derradeiro significado a procura da liberdade";
B) "a pressão das circunstâncias é tal que ele não pode deixar de escolher";
C) "Isso não significa que ele a deseje (a liberdade) abstratamente";
D) "não poderá mais desejar outra coisa, a não ser a liberdade como fundamento de todos os valores";
E) "O homem faz-se; ele não está pronto logo de início".

25. É possível inferir-se do texto que:
A) a diretriz do determinismo é o princípio gratuito da liberdade;
B) o princípio do ceticismo é condição de possibilidade da liberdade;
C) a tônica do pensamento existencialista é o idealismo determinista;
D) o objetivo da liberdade, em sua concretude, é querer-se a si própria;
E) o absurdo sentido da vida exclui a liberdade gratuita e engajada.

26.O texto indica que, para Sartre:
A) os valores são determinados por Deus;
B) a liberdade é o fundamento de todos os valores;
C) a ética constitui-se pela procura da felicidade;
D) não pode haver moral porque Deus não existe;
E) o valor máximo é a vontade de poder.

27. "Desde Copérnico o homem parece ter caído em um plano inclinado, agora rola cada vez mais depressa afastando-se do centro...Toda ciência tende hoje a dissuadir o homem do apreço que teve até agora por si, como se este nada mais tivesse sido do que uma bizarra vaidade." Nesta passagem da Genealogia da moral, Nietzche critica a posição kantiana de crença absoluta na ciência moderna e na consciência moral. Quanto às conseqüências para a
epistemologia contemporânea, podemos dizer que Nietzsche prenuncia:
A) o pensamento complexo de Edgar Morin, que prioriza as Ciências Humanas e descarta a necessidade da Filosofia;
B) novos paradigmas para o conhecimento científico pelo descentramento progressivo, como apontado por Foucault nas "feridas narcísicas";
C) a crise da ciência moderna que desemboca na técnica informatizada, o raciocínio virtual do homem descentrado, conforme Pierre Levy;
D) a fragmentação radical dos saberes e o fim das certezas, conforme a teoria holística de Ilya Prigogine;
E) a "modernidade líquida" de Zygmunt Bauman, concepção que unifica o sujeito moral e o sujeito cognitivo.

28. Observe o texto.
"A mente, tendo recebido do exterior as ideias (...), ao dirigir seu olhar para dentro, sobre si mesma, e ao observar suas atividades próprias em relação às ideias que já possui, tira de lá outras idéias, que podem ser objeto de sua contemplação tanto quanto aquelas que recebeu das coisas exteriores".
A posição que se evidencia no fragmento de texto acima transcrito é o:
A) empirismo de Locke;
B) idealismo de Kant;
C) racionalismo de Descartes;
D) ceticismo de Hume;
E) existencialismo de Heidegger.

29. Observe o texto.
"Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde os meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto; de modo que me era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente desde os fundamentos, se quisesse estabelecer algo de firme e de constante nas ciências".
(DESCARTES. Meditações.)
Partindo das constatações mencionadas acima, o autor instaura a dúvida hiperbólica, colocando a si mesmo argumentos para confrontar as antigas certezas. Tais argumentos:
A) são conhecidos como argumentos céticos porque confirmam o ceticismo cartesiano;
B) denunciam a hipocrisia moral e a pretensão de que podemos distinguir claramente o BEM e o MAL;
C) constituem o encadeamento de deduções que permite chegar a uma primeira certeza;
D) partem do cogito para concluir a impossibilidade da existência de qualquer substância;
E) são fantasiosos e, portanto, incoerentes com as deduções lógicas encadeadas pelo filósofo.

30. De acordo com a ética aristotélica, o Bem supremo é:
A) Deus, sumamente bom e poderoso que concede a graça da fé aos que poderão encontrá-lo em sua própria alma;
B) a liberdade, característica do eu puro de ultrapassar a causalidade da natureza e forjar seu próprio destino;
C) a boa vontade, regida pela consciência moral, que se submete ao dever na obediência aos imperativos categóricos;
D) a felicidade, buscada por todos os homens, e que necessita ser conquistado numa atividade dirigida pela razão;
E) a vontade de poder, que se realiza no eterno retorno e na possibilidade de superar os valores do cristianismo.

31. Na conclusão da Genealogia da moral, diz Nietzsche: "O homem, o mais bravo e habituado ao sofrimento dentre os animais, não nega em si o sofrer; ele o quer, ele o procura mesmo, pressuposto que lhe indiquem um sentido para isso, um para-quê do sofrimento. A ausência do sentido do sofrer, não o sofrer, era a maldição que até agora esteve estendida sobre a humanidade". A "vontade do nada", Mal Menor por excelência, é atingida nessa linha de raciocínio, na qual o que oferece sentido ao sofrimento é:
A) o ressentimento, negação que se dirige sempre para fora de si mesmo e inviabiliza a existência;
B) o ideal ascético, que preserva a existência de uma vontade como fundamento do sujeito;
C) a gênese dos valores como expressão de verdades que não se submetem ao devir temporal;
D) Deus, fundamento dos valores que permitem a preservação da alma para além do bem e do mal;
E) a vontade própria dos "homens do rebanho", que se distingue da vontade dos senhores e dos nobres.

32. Pode-se dizer que o pensamento político de Locke fundamenta o Estado liberal porque postula a passagem do estado de natureza ao estado de sociedade por meio:
A) da instauração da propriedade privada que impede que a ajuda mútua continue a ocorrer naturalmente;
B) de um contrato estabelecido pela vontade geral em que cada cidadão, ao obedecer às leis, só obedece a si mesmo;
C) de um acordo entre homens livres e iguais que se colocam sob a proteção de um deles com o grande e principal objetivo de preservar a propriedade;
D) de um pacto que impõe um soberano absoluto que impede a destruição de toda a comunidade na guerra de todos contra todos;
E) de uma ordem natural regida pela razão que atribui ao Estado a origem das desigualdades e domínio dos fortes sobre os fracos.

33. O conceito de práxis é fundamental na teoria marxista.
Pode-se compreender a práxis como:
A) o princípio que instaura o poder na sociedade civil por meio de uma dialética da eterna circularidade;
B) a dimensão da prática do homem, descomprometida com qualquer pensamento racional ou lógica da contradição;
C) a instância geradora do conhecimento empírico que abarca toda a compreensão da natureza em sua história;
D) o materialismo enquanto intuição dos indivíduos únicos e singulares inseridos na sociedade das lutas de classe;
E) a relação dialética pela qual o homem, ao transformar a natureza e a sociedade por meio do trabalho, transforma a si mesmo.

34. Pelas relações e transformações que se estabelecem na práxis social constitui-se:
A) a superestrutura responsável pelo desenvolvimento científico da sociedade moderna;
B) o materialismo econômico que se contrapõe ao materialismo dialético e ao determinismo histórico;
C) a divisão do trabalho e o modo de produção capitalista, expressão máxima da História;
D) a infraestrutura econômica sobre a qual se erigem os demais níveis da estruturação social;
E) a hierarquia de classes sociais que fundamentam a sociedade e permanecem constantes.

35. Observe o texto.
"... uma das primeiras coisas a compreender é que o poder não está localizado no Estado e que nada mudará na sociedade se os mecanismo de poder que funcionam fora, ao lado dos aparelhos de Estado a um nível muito mais elementar, não forem modificados".
(MICHEL FOUCAULT. Microfísica do poder.)

De acordo com a posição expressa acima pelo autor, seria importante:
A) conhecer, sobretudo, os micropoderes que se exercem no cotidiano;
B) confirmar a fragilidade do poder no nível do conhecer e do saber;
C) reafirmar que o saber sobre o corpo nada acrescenta à análise do poder;
D) enfocar o enraizamento do poder em uma determinada classe social;
E) perceber que o poder age apenas por meio da censura e do recalque.

Leia o texto abaixo e responda às questões 36, 37 e 38.
Walter Benjamin, em A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução, dispõe-se a desmistificar a visão elitista de que os objetos de arte seriam portadores de uma "aura", que
lhes atribuiria valor estético somente enquanto individualizados e únicos. Ele contrapõe que "o homem que se diverte pode também assimilar hábitos; diga-se mais: é claro que ele não pode efetuar determinadas atribuições, num estado de distração, a não ser que elas se lhe tenham tornado habituais. Por essa espécie de divertimento, pelo qual ela tem o objetivo de nos instigar, a arte nos confirma tacitamente que o nosso modo de percepção está hoje apto a responder a novas tarefas".

36. Na obra citada, Benjamin procura demonstrar que:
A) a obra de arte, ao ir mais além do "culto" a ela dispensado pelo seu caráter de raridade, atinge dimensões sociais mais amplas;
B) o talento e poder de expressão do artista criam o valor estético da obra quando aceitos pela elite em que se inserem;
C) o cinema é considerado a arte por excelência a partir do século XX, estando as outras formas de arte condenadas à extinção;
D) o papel social da arte está ligado à "aura" própria dos objetos artísticos que os torna inteligíveis e valorizados;
E) a arte e a cultura de um povo dependem da indústria cultural que as produz e permite sua assimilação.

37. Em sua concepção de arte, Benjamim NÃO aceita:
A) a fruição daqueles que tomam consciência da beleza diante de uma obra de arte;
B) a existência de juízos estéticos quanto ao valor das obras de arte;
C) a concepção de beleza como variável de acordo com o momento histórico;
D) a irreprodutibilidade da obra de arte por seu caráter único e exclusivo de raridade;
E) o poder de instigação que a arte propicia ao abrir novos significados na práxis social.

38. A reflexão de Benjamin poderia servir de argumento para os professores de Filosofia que:
A) restringem suas análises à estética das imagens cinematográficas utilizada como instrumento de criar hábitos de concentração;
B) procuram unir razão e sensibilidade e introduzem a reflexão filosófica a partir dos significados que a imagem cinematográfica instaura;
C) priorizam a diversão, uma vez que o trabalho teórico textual não vem produzindo os efeitos desejados;
D) substituem o intelectual pelo perceptivo e realizam suas aulas numa perspectiva empirista e behaviorista;
E) priorizam como objetivo a construção de hábitos e atitudes como condição de possibilidade da emergência do espírito filosófico.

39. Dentre os "conhecimentos necessários de Filosofia" (LDB, artigo 36, § 1) a serem priorizados estariam os temas emergentes contemporâneos, tais como a globalização, as mudanças na vida cotidiana na sociedade tecnológica, os novos valores e costumes. Tratar esses temas filosoficamente:
A) valoriza a Filosofia pós-moderna que não precisa levar em conta o pensamento clássico dos pensadores antigos nem sistemas e teorias filosóficas obsoletos para a sociedade globalizada em que vivemos;
B) atribui à filosofia um papel secundário e compensatório porque suprime a especificidade da reflexão filosófica uma vez que a análise dos temas se esgota no âmbito de cada disciplina científica;
C) dilui e deturpa necessariamente o papel da Filosofia, que se precariza nesse nível de ensino devido principalmente à falta de base dos alunos que reduz a discussão a considerações próprias do senso comum;
D) restringe o estudo da filosofia a um modismo e "presentismo", não atendendo aos grandes temas da história da filosofia e passando por fora das contribuições dos grandes filósofos;
E) reafirma o papel específico da reflexão filosófica ao buscar o significado dos fatos e problemas, revisar os fundamentos epistemológicos das teorias abordadas e análise crítica das concepções de valores e costumes.

40. Conforme se reafirma nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, a introdução da disciplina Filosofia no currículo do Ensino Médio, inserida na área de Ciências Humanas e suas Tecnologias:
A) contribui pouco para a construção da cidadania plena, uma vez que o conhecimento filosófico é eminentemente teórico, o que exclui a possibilidade de qualquer vínculo com a realidade;
B) é a responsável pela construção da cidadania, pois apenas o conhecimento das teorias dos grandes filósofos permite a crítica da sociedade responsável por tal construção;
C) só pode promover a construção da cidadania plena dos estudantes do Ensino Médio caso o currículo desenvolvido, em todas as disciplinas, esteja harmonicamente voltado para tal fim;
D) é inútil para a construção da cidadania ou para qualquer outro fim, uma vez que os estudantes desse nível não apresentam a base cultural necessária para apreender esse tipo de conhecimento;
E) não tem a atribuição de contribuir para a construção da cidadania plena dos estudantes, que é uma competência transversal da área e não um objetivo da disciplina.

PROVA DISCURSIVA
SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA:
Um professor da 2ª série do Ensino Médio desenvolveu a seguinte atividade com seus alunos:
Solicitou aos colegas professores da turma que selecionassem pequenos textos de autores contemporâneos que abordassem questões relativas ao conceito de sociedade sob o enfoque de suas disciplinas específicas;
Solicitou aos alunos que pesquisassem, durante uma semana, notícias de jornais ou veiculadas pela televisão que se referissem à sociedade.
Em sala de aula, os alunos, divididos em grupos, trabalharam um dos textos oferecidos pelos diferentes professores seguindo o roteiro abaixo:

Identificar o conceito de sociedade apresentado no texto.
Identificar outros conceitos básicos relacionados ao conceito-chave.
Relacioná-los ao contexto das diferentes disciplinas curriculares.
Explicitar a proposta do autor do texto lido a respeito da questão temática (sociedade).
Relacionar as notícias recortadas dos jornais pelos componentes do grupo com a posição do autor.
Argumentar contra e/ou a favor da posição defendida pelo autor, diante das situações reais apresentadas nas notícias.

A discussão coletiva sobre a atividade realizada subsidiou a apresentação pelo professor do conceito de sociedade segundo teorias filosóficas clássicas.

Observe a situação apresentada e desenvolva um pequeno texto (no mínimo 25 a no máximo 30 linhas) integrando os itens abaixo propostos:

1. Destacar 3 (três) características da Filosofia e atitude filosófica diante do conhecimento evidenciadas na situação descrita no texto, justificando os destaques.
2. Selecionar 3 (três) competências ou habilidades a serem desenvolvidas em Filosofia, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais - Ensino Médio e comentar como poderiam ser construídas na situação apresentada.

GABARITO:
21C - 22A - 23B - 24E - 25D - 26B - 27B - 28A - 29C - 30D - 31B - 32C - 33E - 34D - 35A - 36A - 37D - 38B - 39E - 40C

Nenhum comentário: