Pesquisa personalizada

domingo, 2 de janeiro de 2011

Prova e Gabarito - Professor de Filosofia - Governo do Estado de Goiás - Centro de Seleção - UFG - 2009


Prova e Gabarito - Professor de Filosofia - Governo do Estado de Goiás - Centro de Seleção - UFG - 2009  
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

QUESTÃO 31
O chamado "argumento do terceiro homem", cuja primeira versão encontra-se no diálogo Parmênides, de Platão, é tradicionalmente mobilizado contra
(A) a teoria platônica das ideias ou formas.
(B) as teses relativistas de Protágoras.
(C) a teoria aristotélica da verdade como correspondência.
(D) as prescrições céticas de epoché ou suspensão do juízo.

QUESTÃO 32
No livro IV de sua Metafísica, Aristóteles refere-se a um princípio válido para "o ser enquanto ser". Nessa passagem, Aristóteles está se referindo ao
(A) princípio do círculo vicioso.
(B) princípio da razão suficiente.
(C) princípio da não-contradição.
(D) princípio de plenitude.

QUESTÃO 33
Em suas Meditações, Descartes afirma que seu objetivo nesta obra é o de "estabelecer algo de firme e constante nas ciências". A fim de cumprir tal objetivo, o filósofo vai procurar principalmente refutar
(A) o chamado cético antigo, que propõe a epoché ou suspensão do juízo.
(B) o chamado cético moderno, que levanta a dúvida acerca da existência do mundo exterior.
(C) os relativistas como Protágoras, que afirmam ser o homem a medida de todas as coisas.
(D) filósofos cristãos como Tomás de Aquino, que afirmam ser Deus o fundamento último de todas as verdades.

QUESTÃO 34
A fim de "estabelecer algo de firme e de constante nas ciências", o próprio Descartes sustenta nas páginas de suas Meditações que o ponto final de sua argumentação deve consistir na prova de que
(A) a proposição "Penso, logo existo" é necessariamente verdadeira.
(B) o homem é essencialmente uma criatura que pensa.
(C) a ciência, e não Deus, é a fonte de todas as verdades.
(D) Deus existe e não é enganador.

QUESTÃO 35
Qual das seguintes teses é sustentada por Kant em sua Crítica da Razão Pura?
(A) O homem comum não pode conhecer o que é a coisa em si, apenas o filósofo pode fazê-lo.
(B) Não se pode conhecer o que são as coisas nelas mesmas, dado que a verdade é sempre relativa à opinião particular de cada indivíduo.
(C) Não se pode conhecer o que são as coisas nelas mesmas, isto é, as coisas pensadas como independentes de nós e de nossa mente.
(D) não podemos conhecer o que são as coisas nelas mesmas, isto é, as coisas pensadas como independentes de um sistema linguístico ou cultura particular.

QUESTÃO 36
Em sua Crítica da Razão Pura, Kant define o conhecimento a priori como aquele que
(A) pode ser obtido exclusivamente mediante a experiência empírica.
(B) pode ser obtido unicamente por meio da análise lógica dos conceitos.
(C) diz respeito às coisas nelas mesmas.
(D) pode ser obtido independentemente de qualquer acontecimento empírico.

QUESTÃO 37
A controvérsia medieval entre os chamados realistas e os nominalistas se constitui na disputa entre, respectivamente,
(A) aqueles que afirmam que apenas objetos particulares existem e aqueles que afirmam que apenas universais existem.
(B) aqueles que afirmam a realidade dos universais e aqueles que negam a realidade dos mesmos.
(C) aqueles que afirmam que os universais são entidades concretas e aqueles que sustentam que os universais são entidades abstratas.
(D) aqueles que afirmam que apenas objetos particulares existem e aqueles que afirmam que os universais são meros nomes.

QUESTÃO 38
Segundo David Hume, todas as nossas inferências extraídas da experiência fundam-se
(A) na própria razão.
(B) nos hábitos ou costumes.
(C) no raciocínio lógico-matemático.
(D) na análise dos conceitos empíricos.

QUESTÃO 39
A tradicional oposição filosófica entre empiristas e racionalistas diz respeito à divergência, respectivamente, entre aqueles que afirmam que
(A) apenas as verdades empíricas são logicamente necessárias e os que asseguram que apenas a própria razão pode fornecer tal tipo de verdade.
(B) o mundo empírico existe independentemente da mente e aqueles que sustentam ser o mundo empírico um produto da mente.
(C) a fonte do conhecimento reside fundamentalmente na experiência e os que defendem ser a própria razão a fonte de conhecimento.
(D) aqueles que afirmam que apenas o conhecimento empírico é a priori e aqueles que afirmam que apenas a razão pode nos fornecer um tal tipo de conhecimento.

QUESTÃO 40
Em seu Tractatus logico-philosophicus, ao discutir a relação entre lógica e linguagem corrente, Wittgenstein assegura que
(A) a forma lógica da linguagem corrente é diferente de sua forma gramatical.
(B) a forma lógica da linguagem corrente é idêntica à sua forma gramatical.
(C) cada linguagem particular possui uma estrutura lógica específica.
(D) a linguagem corrente é defeituosa de um ponto de vista lógico.

QUESTÃO 41
Em sua obra A religião nos limites da simples razão, Immanuel Kant analisa o que ele denomina "mal radical" presente na natureza humana. A que ele se refere com esse conceito?
(A) À malignidade intrínseca à natureza humana e aos propósitos humanos.
(B) À capacidade humana de querer o mal pelo mal.
(C) À corrupção da natureza humana decorrente do pecado original.
(D) À propensão em ceder às apetições, ao invés de obedecer aos imperativos da razão.

QUESTÃO 42
Na obra Para a genealogia da moral, Friedrich Nietzsche sustenta que o indivíduo soberano é o fruto maduro do processo civilizatório, da moralidade do costume. Esse autor define o indivíduo soberano como aquele
(A) a quem é lícito fazer promessas, por possuir uma memória da vontade.
(B) que estabelece os padrões valorativos de uma dada comunidade.
(C) que é capaz de viver em isolamento, independente de seus concidadãos.
(D) a quem tudo é permitido, por possuir um padrão superior de valoração.

QUESTÃO 43
Em obras como Sobre a violência, Hannah Arendt compreende o poder político como
(A) o monopólio do exercício legítimo da força.
(B) o sucesso no alcance de metas próprias.
(C) a habilidade para influenciar comportamentos.
(D) a capacidade humana de agir em concerto.

QUESTÃO 44
No livro VI da obra A república (488a ss.), Platão compara a democracia a um navio no qual todos os marinheiros desejam pilotar sem, no entanto, possuir conhecimento algum da arte de navegar. Entrementes, o verdadeiro piloto - "que precisa se preocupar com o ano, as estações, o céu, os astros, os ventos e tudo o que diz respeito à sua arte, se quer de fato ser comandante do navio, a fim de o governar, quer alguns o queiram quer não" - é compreendido como um inútil. Para Platão, essa metáfora refere-se
(A) às relações das cidades com os verdadeiros filósofos.
(B) à primazia da monarquia sobre as outras formas de governo.
(C) ao caráter universal do conhecimento prático.
(D) à evidente sabedoria do governo tirânico.

QUESTÃO 45
Na obra Crítica da faculdade do juízo, Kant assinala que os juízos estéticos são reflexivos, não determinantes, porque
(A) subsumem o particular em um universal previamente dado.
(B) encontram o universal a partir de algo particular dado.
(C) exprimem o movimento interno de comprazimento do sujeito que julga.
(D) correspondem à dinâmica da faculdade da apetição.

QUESTÃO 46
Na Ética a Nicômaco, Aristóteles menciona três modos de vida, que se podem escolher livremente: a vida dedicada aos prazeres do corpo, a vida ativa dedicada à política, a vida contemplativa do filósofo. Para ele, a superioridade do modo de vida do filósofo deve-se
(A) à prevalência da alma sobre o corpo.
(B) à corrupção constitutiva da vida política.
(C) à primazia das coisas divinas com que se ocupa o filósofo.
(D) à capacidade do filósofo de estabelecer padrões últimos para a vida política.

QUESTÃO 47
Para Immanuel Kant, o indivíduo moral não visa à felicidade em suas ações, mas ao cumprimento do dever que o torna digno dela. Não obstante, na obra Fundamentação da metafísica dos costumes, ele sustenta que a busca por assegurar a própria felicidade seria um dever indireto, porque
(A) atestaria que há uma ordem moral no mundo.
(B) afastaria a tentação para a transgressão dos deveres decorrente do sofrimento.
(C) faria coincidir liberdade e natureza na condição humana.
(D) consistiria na realização do propósito da natureza para o homem.

QUESTÃO 48
No início da obra Dialética do esclarecimento, T. W. Adorno e M. Horkheimer afirmam que nessa obra se propõem a compreender "por que a humanidade, em vez de ingressar em um estado verdadeiramente humano, atingiu um novo gênero de barbárie". Com essa indicação, os autores se referem
(A) ao moderno nivelamento da condição humana à animalidade.
(B) ao malogro das promessas emancipatórias do Iluminismo.
(C) à crescente generalização da violência nas relações humanas.
(D) à tendência atual de organização política de modo primitivo.

QUESTÃO 49
Jürgen Habermas, na obra Direito e democracia (Faktizität und Geltung), menciona dois modelos de democracia os quais ele pretende superar, conciliando-os: o primeiro é o sugerido por I. Kant, mais próximo do liberalismo, centrado na autonomia do indivíduo; o segundo é o de J-J. Rousseau, mais próximo do republicanismo, centrado na comunidade ética. O terceiro modelo, proposto por Habermas, consiste
(A) na síntese entre direito legítimo e opinião pública.
(B) na constituição discursiva de uma vontade geral.
(C) no modelo procedimental da política deliberativa.
(D) na salvaguarda institucional do uso público da razão.

QUESTÃO 50
Michel Foucault, na obra História da sexualidade I - a vontade de saber -, afirma haver uma radical distinção entre a política tal qual a concebia Aristóteles e a política moderna, porque
(A) na modernidade, a participação cidadã é o fundamento da legitimidade do poder soberano.
(B) na antiguidade, a política tomava a seu cargo o zelo integral pela vida privada e pública do cidadão.
(C) na modernidade, a gestão da vida biológica passa a ser concebida como a tarefa política fundamental.
(D) na antiguidade, a liberdade do indivíduo se traduzia no direito a não tomar parte nas funções de governo.

GABARITO:
Q-31A
Q-32C
Q-33B
Q-34D
Q-35C
Q-36D
Q-37B
Q-38B
Q-39C
Q-40A
Q-41D
Q-42A
Q-43D
Q-44A
Q-45B
Q-46C
Q-47B
Q-48B
Q-49C
Q-50C


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS - DISCURSIVAS

QUESTÃO 1
Elabore um texto no qual seja abordada a relação entre o ensino de Filosofia no ensino médio e a formação da cidadania.

QUESTÃO 2
Leia a citação a seguir.
"Muitos professores, por sinal muito mal informados e também mal formados, pensam que, para lecionar filosofia, basta ter em mãos qualquer manual e aplicá-lo em sala de aula. E se o manual apresentar perguntas e respostas prontas, melhor ainda. Ora, se o ensino de Filosofia começar por aí, o que se pode esperar é um resultado altamente negativo, cujos elementos seriam mais nefastos do que se a disciplina não tivesse sido reintroduzida". (Milton Meira Nascimento, O ensino de Filosofia no segundo grau, 1985/1986)
Considerando o exposto, faça uma análise da natureza e do papel dos recursos didáticos no ensino da Filosofia no ensino médio.

QUESTÃO 3
No ensaio "A crise na educação", na obra Entre o passado e o futuro, Hannah Arendt menciona três pressupostos básicos subjacentes à crise contemporânea na educação: "o primeiro é o de que existe um mundo da criança e uma sociedade formada entre crianças, autônomas, e que se deve, na medida do possível, permitir que elas governem"; o segundo tem a ver com o ensino, com o fato de que "sob a influência da Psicologia moderna e dos princípios do Pragmatismo, a Pedagogia transformou-se em uma ciência do ensino em geral a ponto de se emancipar inteiramente da matéria efetiva a ser ensinada"; o terceiro pressuposto básico "é o de que só é possível compreender e conhecer aquilo que nós mesmos fizemos, e sua aplicação à educação é tão primária quanto óbvia: consiste em substituir, na medida do possível, o aprendizado pelo fazer".
Tendo em vista essas observações e atentando notadamente para o segundo pressuposto, responda: como garantir a especificidade da Filosofia no ensino médio? Justifique e fundamente sua resposta.


RESPOSTAS ESPERADAS/PRELIMINARES FILOSOFIA

QUESTÃO 1
A relação entre o ensino da Filosofia no ensino médio e a formação da cidadania pode ser vista a partir do seguinte ângulo: se tomamos a filosofia como uma disciplina que visa a exercitar o aluno no hábito de problematizar temas correntemente aceitos como não-problemáticos ( isto é, a levantarem perguntas do tipo : "O que é a verdade?", ou ainda: "O que é isso que chamamos de tempo?"), o papel que esta disciplina pode desempenhar na formação da cidadania (ou, pelo menos, na construção de um certo modelo específico de cidadão) é o de justamente alargar a possibilidade de formarmos alunos que tenham a disposição para uma recepção mais reflexiva e crítica dos juízos, normas e valores a nós transmitidos, isto é, que submetam tais juízos, normas e valores a um crivo crítico antes de aceitá-los ou não aceitá-los.

QUESTÃO 2
Os manuais de Filosofia desempenham (ou deveriam desempenhar) um papel diferente do que (legitimamente) desempenham os manuais das ciências ditas exatas ou naturais. No caso dos manuais de Filosofia - diferentemente do caso dos manuais das ciências ditas naturais ou exatas -, o que estes deveriam oferecer não são aquelas respostas dos problemas centrais da disciplina já predominantemente aceitas como corretas, mas, diferentemente, expor tentativas de respostas consideradas relevantes mesmo sem necessariamente serem tidas como corretas. Nessa direção, não constitui um problema para os manuais de filosofia a possibilidade de oferecerem ao aluno respostas de filósofos que discordam acerca de um determinado tema. Isso significa que esses manuais não necessariamente devem ter como objetivo fornecer respostas definitivas (ou, pelo menos, provisoriamente aceitas como definitivas), mas, sim, e principalmente facultar ao estudante os meios adequados para levantarem os problemas filosóficos com o rigor desejado e refletirem criticamente acerca destes problemas e das respostas dadas a eles pelos filósofos estudados.

QUESTÃO 3
O espaço da Filosofia no ensino médio tem sido justificado pela contribuição dos estudos filosóficos para o exercício da cidadania. Frequentemente, também por conta disso, as aulas de Filosofia convertem-se em um espaço para o debate amplo e variado das mais diversas questões contemporâneas, como aborto, eutanásia, injustiça social, violência, que, a despeito de poderem ser legítimos temas filosóficos, acabam sendo diluídos no expediente da discussão pela discussão, da discussão opiniática. Em vista disso, muito se tem compreendido que não é necessária uma formação filosófica específica para que se possa ministrar aulas de Filosofia, ou, mais especificamente, que não é necessário aprofundar nas obras dos filósofos ou mesmo fazer uso delas, uma vez que o mais relevante é a opinião do aluno, e que um professor formado nas técnicas gerais do ensino é capaz de conduzir adequadamente uma disciplina de Filosofia sem precisar aprofundar-se nas obras filosóficas concernentes aos temas eventualmente debatidos. O que se verifica, não obstante, é que para que o ensino de filosofia no nível médio seja eficaz - mesmo no que diz respeito à capacidade para o debate, a reflexão e o discurso crítico e argumentativo, mas também na apreensão autônoma do patrimônio filosófico da humanidade -, é indispensável o conhecimento dos problemas e obras filosóficas por parte do professor, e o contato direto dos alunos com os textos filosóficos devidamente apresentados pelo professor. Fica claro, por fim, que para ensinar filosofia, é necessário saber filosofia.

Nenhum comentário: