Prova e Gabarito - Filosofia - SESI/SP - CESPE/UnB - 2008
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS - FILOSOFIA
QUESTÃO 41
Não se trata, portanto, de estudar a história da filosofia porque na seqüência dos filósofos existe algo em si mesmo educativo. O valor educativo está em cada um dos grandes clássicos da filosofia, pois nele existe o tormento do pensamento.
M. Trombino. Elementi di didattica teórica della filosofia. Bologna, Calderini, 1999, p. 32 (com adaptações).
A partir da compreensão do uso da história da filosofia para o ensino apresentada no texto acima, assinale a opção correta.
A - O estudo da história da filosofia é, na seqüência dos filósofos, por si mesma educativa.
B - É preciso aproximar o aluno aos clássicos da filosofia para que apreenda os conteúdos fundamentais da filosofia.
C - O estudo da história da filosofia é a história de indivíduos atormentados.
D - O que a história da filosofia ensina é a compreender o tormento, a inquietude por maior conhecimento e reflexão que moveu os filósofos desde a Antiguidade.
QUESTÃO 42
Para que se possa falar realmente de história da filosofia, em sua completude, parece-me necessário estabelecer uma relação teorética, isto é, um diálogo com o clássico: pondo a ele
perguntas (as nossas, as de sempre) e avaliando suas respostas às mesmas. Sem esta relação vital com o clássico a história da filosofia se torna passatempo de colecionador e o professor de filosofia, antiquário de loja de antiguidades. Especialmente para este diálogo torna-se necessária a superação de uma pretensa postura de neutralidade do historiador da filosofia (no nosso caso, do professor): será preciso declarar explicitamente sua postura filosófica para que essa mesma possa ser avaliada e colocada "na mesa".
G. Cornelli. A lição dos clássicos: algumas anotações sobre a história da filosofia na sala de aula. In: S. e Danelon G. M. Gallo e G. Cornelli. Ensino de filosofia: teoria e prática. Unijuí, 2004, p. 194 (com adaptações).
Tendo o texto acima como referência, assinale a opção correta acerca da história da filosofia.
A - A história da filosofia é inútil para o desenvolvimento da reflexão teorética.
B - A história da filosofia é um passatempo de colecionador de antiguidades.
C - Para que uma história da filosofia se torne ensino de filosofia é necessária uma relação vital com o clássico.
D - O historiador da filosofia precisa manter-se neutro na frente dos clássicos.
QUESTÃO 43
A partir da metade dos anos 60 do século passado, no Brasil, a consciência de seu caráter de continente periférico, alheio às decisões mundiais, apêndice dos blocos de poder, substituiu a euforia desenvolvimentista. Sua marginalidade, agravada, a partir dos anos 80, pela recessão econômica, só parece compatível com as estritas análises político-econômicas
(...). O tratamento filosófico das questões era confundido com o ecletismo e o antiexperimentalismo da época colonial, sendo então tomado como traço de letrados tradicionais e incapazes de contribuir para a solução prática dos problemas (...). Essa alergia à reflexão filosófica se mostra, na conjuntura atual, pela incapacidade de lidar com a interpretação da cultura senão como prolongamento da conjuntura político-econômica.
Luiz Costa Lima. Apud F. Ceppas. Anotações sobre a formação filosófica no Brasil e o ensino de filosofia. In: S. Gallo, M. Danelon e G. Cornelli. Ensino de filosofia: teoria e prática. Ed. Unijuí, 2004 (com adaptações).
A partir das idéias apresentadas no texto acima, assinale a opção correta.
A - O desprezo histórico da filosofia no Brasil é resultado de sua origem na época colonial.
B - Os filósofos são incapazes de contribuir à solução prática dos problemas de um país em desenvolvimento.
C - O filósofo, no Brasil, é considerado, pela cultura majoritária, um elemento moderno da cultura, capaz de contribuir com o desenvolvimento do país.
D - A cultura é interpretada, no Brasil, como prolongamento da conjuntura econômica.
QUESTÃO 44
No final de as Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino, Marco Pólo e o Kublai Kan travam um diálogo sobre a cidade última, para onde todos os nossos caminhos nos levam.
Kublai - É tudo inútil, se o último porto só pode ser a cidade infernal, que está lá no fundo e que nos suga em um vórtice cada vez mais estreito. Responde Pólo - O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.
I. Calvino. As cidades invisíveis. São Paulo, Ed. Folha de São Paulo, 2003, p. 158 (com adaptações).
Acerca do assunto abordado no texto acima, assinale a opção correta.
A - A filosofia não se interessa pelas realidades últimas e pelo sofrimento pelo fim de tudo.
B - Kublai Kan não é ocidental e, por esse motivo, não se preocupa com o inferno e o final dos tempos e do ser humano.
C - Aceitar que o inferno são os outros e viver estoicamente resignado é a única atitude filosófica possível.
D - A filosofia pode ser pensada como uma busca por distinguir, no meio do inferno, sinais de esperança.
QUESTÃO 45
Uma das figuras privilegiadas na adoção do poder pastoral pelo Estado moderno, nas instituições educacionais, é a figura do professor-pastor. Ele assume a responsabilidade pelas ações e pelo destino da turma e de cada um de seus integrantes. Ele se encarrega de cuidar do bem e do mal que possam acontecer dentro da sala de aula. Ele responde por todos os pecados que possam ser cometidos no seu espaço. Embora assuma modalidades leves e participativas, entre o professor e a turma há uma relação de submissão absoluta; sem o professor os alunos não saberiam o que fazer, como aprender, de qual maneira comportar-se. O professor ganhará a confiança de cada aluno para que ele lhe confie seus desejos, angústias e ilusões. Por último, lhe ensinará que sem alguma forma de sacrifício ou renúncia seria impossível desfrutar de uma vida feliz e de uma sociedade justa.
Walter Kohan. Infância: entre educação e filosofia. Belo Horizonte. Autêntica, 2003, p. 87-8 (com adaptações).
A partir das idéias desenvolvidas no texto acima, assinale a opção correta.
A - O poder pastoral, conceito elaborado por Foucault em seus escritos mais recentes, revela-se como modelo para a atuação do professor de filosofia.
B - O poder pastoral é a forma de poder que irá estruturar as tecnologias, os dispositivos do Estado moderno.
C - O ensino de filosofia, por meio de modalidades leves e participativas, deve visar o controle absoluto do educando.
D - O professor deve ganhar a confiança do aluno para que possa depois ensinar-lhe a necessidade do sacrifício.
QUESTÃO 46
Não há ignorante que não saiba uma infinidade de coisas, e é sobre este saber, sobre esta capacidade em ato que todo ensino deve se fundar. Instruir (ensinar) pode, portanto, significar duas coisas absolutamente opostas: confirmar uma incapacidade pelo próprio ato que pretende reduzi-la, ou, inversamente, forçar uma capacidade que se ignora ou se denega a reconhecer e a desenvolver todas as conseqüências desse reconhecimento. O primeiro ato chama-se embrutecimento e o segundo, emancipação.
Jacques Ranciére. O mestre ignorante: cinco lições sobre emancipação intelectual. Belo Horizonte. Autêntica, 2002, p. 11-2 (com adaptações).
Acerca do assunto abordado no texto acima, assinale a opção correta.
A - Sócrates, que teria declarado "saber de nada saber", é o modelo de filósofo dos tempos mais antigos.
B - Ensinar é forçar o aluno a adquirir competências preestabelecidas.
C - O ensino é o preenchimento das lacunas de conhecimento do educando.
D - O ensino é sempre emancipatório.
QUESTÃO 47
Por causa de sua pobreza, imputada à inutilidade da filosofia, Tales era alvo de escárnio; graças, porém, a seus conhecimentos de astronomia, ele previu, ainda em pleno inverno, que haveria uma abundante colheita de azeitonas; ele obteve, então, algum dinheiro e adquiriu os direitos de uso de todos os lagares em Miletos e Quios, pagando pouco porque
ninguém competia com ele; quando chegou a época da extração do azeite, houve uma súbita procura de numerosos lagares ao mesmo tempo, e sublocando-os nas condições que quis ele ganhou muito dinheiro, provando que para o filósofo é fácil obter lucro quando ele quer, mas não é disso que ele cuida.
Aristóteles. Política, 1259a (Trad. Mário G. Cury).
Com referência ao texto acima, assinale a opção correta.
A - A anedota reportada por Aristóteles indica a necessidade, para o filósofo, de evitar as preocupações mundanas e se dedicar exclusivamente à reflexão.
B - A preocupação com a vida prática é um tópico importante da reflexão filosófica desde os tempos antigos.
C - O elogio a Tales não esconde a reprovação por parte de Aristóteles por ele ser capaz de enriquecer.
D - A pobreza é necessária à filosofia.
QUESTÃO 48
A redução do outro, a visão unilateral e a falta de percepção sobre a complexidade humana são os grandes empecilhos da compreensão. Outro aspecto da incompreensão é a indiferença. E, por este lado, é interessante abordar o cinema, que os intelectuais tanto acusam de alienante. Na verdade, o cinema é uma arte que nos ensina a superar a indiferença, pois transforma em heróis os invisíveis sociais, ensinando-nos a vê-los por um outro prisma. Charlie Chaplin, por exemplo, sensibilizou platéias inteiras com o personagem do vagabundo. Outro exemplo é Coppola, que popularizou os chefes da Máfia com O Chefão. No teatro, temos a complexidade dos personagens de Shakspeare: reis, gângsteres, assassinos e ditadores. No cinema, como na filosofia de Heráclito: "Despertados, eles dormem". Estamos adormecidos, apesar de despertos, pois, diante da realidade tão complexa, mal percebemos o que se passa ao nosso redor.
Edgar Morin. Os sete saberes necessários à educação do futuro.
Tendo como referência o texto acima e as idéias nele evocadas, assinale a opção correta.
A - Compreender o mundo é reduzi-lo a suas partes mínimas.
B - O cinema é alienante e ensina a indiferença para com os valores da sociedade.
C - Para compreender a complexidade que rodeia os humanos, necessita-se despertar para ela.
D - Somente a filosofia pode despertar os homens para a superação de sua visão unilateral do mundo e da complexidade humana.
QUESTÃO 50
Não acredito ser possível decidir, usando métodos de ciência empírica, questões controvertidas como a de saber se a ciência realmente usa ou não o princípio da indução. Minhas dúvidas aumentam quando me dou conta de que será sempre questão de decisão ou de convenção saber o que deve ser denominado ciência e quem deve ser chamado cientista.
K. Popper. The logic of scientific discovery. NY, Harper, 1968, p. 54-5 (com adaptações).
Acerca das idéias apresentadas no texto acima e de conhecimentos relativos à filosofia da ciência, assinale a opção correta.
A - A ciência é um saber absoluto, positivo, inquestionável.
B - A definição do método científico é uma construção social, historicamente datada.
C - A ciência é uma descrição pura e objetiva da realidade, baseada no método empírico.
D - Popper, autor do texto, acredita ser a ciência um saber logicamente comprovado.
QUESTÃO 51
A ciência manipula as coisas e renuncia a habitá-las. Estabelece modelos internos delas e, operando sobre esses índices ou variáveis, as transformações permitidas por sua definição, só de longe em longe se confronta com o mundo real. Ela é, sempre foi, esse pensamento admiravelmente ativo, engenhoso, desenvolto, esse parti pris de tratar tudo como "objeto geral", isto é, ao mesmo tempo como se ele nada fosse para nós e estivesse no entanto predestinado aos nossos artifícios. Mas a ciência clássica conservava o sentimento da opacidade do mundo, e é a este que ela entendia juntar-se por suas construções.
M. Merleau-Ponty. O olho e o espírito. Cosac e Naify, 2004, p. 13 (com adaptações).
A partir do texto acima e de conhecimentos relativos à filosofia da ciência, assinale a opção correta.
A - Merleau-Ponty revela uma predileção pela ciência atual em relação à ciência antiga.
B - A ciência antiga acredita piamente em suas ferramentas de apreensão da realidade objetiva.
C - A ciência moderna parte do pressuposto de que a realidade objetiva esteja disponível por meio da criação de artifícios que a generalizem.
D - A ciência clássica renuncia a habitar o mundo.
QUESTÃO 52
Nenhuma sociedade pode sobreviver sem um código moral fundado em valores compreendidos, aceitos e respeitados pela maioria dos seus membros. Nós não temos mais nada disto. As sociedades modernas poderiam dominar indefinidamente os poderes fantásticos que a ciência lhes deu com o critério de um vago humanismo colorido por uma espécie de hedonismo otimista e materialista? Poderiam, nessas bases, resolver suas intoleráveis tensões? Onde vão desmoronar?
Texto de uma conferência de Jacques Monod, citado por J. Russ. Pensamento ético contemporâneo. São Paulo, Paulus, 1999, p. 19 (com adaptações).
Acerca do tema abordado no texto acima, assinale a opção correta.
A - A moral contemporânea está perfeitamente adequada às novas necessidades de avaliação ética que as descobertas científicas trazem à tona.
B - Segundo Monod, há a necessidade de se estabelecer códigos morais para controlar a sociedade e impor a ela regras de conduta.
C - A ciência moderna, assim como a economia de matriz liberal, encontrará seus próprios modelos reguladores, para contribuir autonomamente ao bem-estar da sociedade.
D - Morais humanistas e hedonistas não são suficientes para resolver os conflitos sociais que a ciência moderna gerará.
QUESTÃO 53
Rousseau teve o mérito de afirmar que o princípio do Estado é a vontade. Mas, tendo entendido a vontade universal não como a racionalidade em si e para si da vontade, mas apenas como o elemento comum que deriva da vontade singular, Rousseau faz com que a associação dos indivíduos no Estado se torne um contrato, algo que, portanto, tem como base o arbítrio desses indivíduos, a opinião e o consenso explícito deles.
G. F. Hegel. Grundlinien der philosophie des rechts. Suhrkamp, Frankfurt am Main, 1995, p. 400 (com adaptações).
Tendo como referência esse texto de Hegel e conhecimentos relativos ao debate filosófico sobre o Estado moderno, assinale a opção correta.
A - Segundo Hegel, a vontade geral, que fundamenta o Estado, tem uma base objetiva, ou seja, sofre um processo de determinações históricas que transcende a ação dos indivíduos
e seus interesses singulares.
B - As teorias contratualistas, como a de Rousseau, concedem ao Estado sua própria vontade racional, independentemente dos projetos volitivos singulares.
C - A racionalidade em si e para si que o Estado precisa para existir está garantida pelo contrato social.
D - A vontade universal, segundo Hegel, é o resultado da soma das vontades individuais.
QUESTÃO 54
As pessoas dizem repetidamente que a filosofia não progride realmente, que estamos ainda ocupados com os mesmos problemas filosóficos que os gregos. Mas as pessoas que dizem
isto não entendem por que isto deve ser assim. Isto é porque nossa linguagem tem permanecido a mesma e permanece nos seduzindo a perguntar as mesmas questões. Enquanto continuar esta situação as pessoas permanecerão se deparando com as mesmas intrigantes dificuldades e encontrar-se-ão começando algo que nenhuma explicação parece capaz de esclarecer.
L. Wittgenstein. Culture and value, 15 (1931) (com adaptações).
A partir do texto acima, de Wittgenstein, e de conhecimentos relativos ao debate filosófico acerca da linguagem no século XX, assinale a opção correta.
A - A filosofia não progride em sua problematização por estar ligada demasiadamente a conteúdos antigos.
B - Está-se a cada dia inventando novos problemas filosóficos.
C - Estudar os mesmos problemas de sempre é tarefa fundamental da filosofia.
D - A sedução da linguagem impede que a filosofia elabore novas questões.
QUESTÃO 55
A filosofia de Aristóteles pode parecer uma catedral abandonada, uma construção a ser visitada aos domingos, a respeito da qual se perguntaria, com certa curiosidade, que pessoas a teriam habitado. Um exame mais atento da filosofia do nosso século, porém, atesta o contrário: Aristóteles foi continuamente discutido, analisado, debatido, e isto nas mais diferentes correntes, em momentos decisivos de suas elaborações. Em particular, a ética aristotélica ocupa uma posição privilegiada nos atuais debates sobre a moral. A razão disso consiste muito provavelmente no fato de que a ética contemporânea buscou atenuar os elementos demasiadamente rígidos que herdou do que podemos considerar a ética por excelência da época moderna - o formalismo kantiano. As reflexões de Aristóteles sobre a ação, a moral e a razão prática foram corretamente vistas por um bom número de autores como podendo servir de contrapeso a esta herança.
Marco Zingano. Prefácio. In: Hobuss João. Eudaimonia e auto-suficiência em Aristóteles. Pelotas: Ed. Universitária, UFPel, 2002, p. 9 (com adaptações).
A partir do texto acima e de conhecimentos acerca da ética clássica, assinale a opção correta.
A - A ética de Kant é uma atualização da ética aristotélica.
B - A ética contemporânea reconhece a necessidade de recorrer à ética de Aristóteles, pois seus conceitos parecem-lhe mais apropriados do que os da ética moderna.
C - A filosofia aristotélica é um edifício em ruína, relevante somente para fins arqueológicos.
D - A ética é o estudo das normas clássicas de convivência social.
QUESTÃO 56
Na filosofia, a definição constitui o momento de fixação e de delimitação, pelo menos virtual, dos conceitos. Sua aparente simplicidade esconde, de fato, um conjunto de operações que é preciso esclarecer. Não existe definição filosófica independente da doutrina. Os estilos e a forma das definições platônicas não são os de Aristóteles.
F. Cossutta. Elementos para a leitura dos textos filosóficos. Martins Fontes, 1994, p. 53 (com adaptações).
A respeito do texto acima e de conhecimentos relativos à questão da conceituação filosófica, assinale a opção correta.
A - Definir um conceito filosófico é fixar um sentido universal para ele.
B - Uma doutrina filosófica é uma articulação de definições coerentes entre si.
C - A definição é resultado de um procedimento só aparentemente complexo de delimitação dos conceitos.
D - Aristóteles apreendeu estilo e forma das definições de Platão.
QUESTÃO 57
Sem dúvida, o terceiro milênio abriu com um déficit de horizonte ético. Nem por isso os homens podem deixar de sonhar com a liberdade, com o sentido e com a finalidade da vida justa, solidária, pacífica, ou seja, com a retomada das grandes referências éticas. Em outras
palavras, o Homo faber não pode prevalecer sobre o Homo symbolicus. A questão do sentido ético da vida, da história, da ciência, está subjacente ao mundo definitivamente marcado pela tecnociência. Cabe à filosofia, à ética, à bioética criar uma hermenêutica para explicitar o sentido maior embutido na biotecnologia e na pluralidade das éticas particulares.
O. Pegoraro. Bioética e filosofia. In: Revista de Filosofia, SEAF, ano II, n.º 2, 2002, p. 53 (com adaptações).
A partir do texto acima, assinale a opção correta.
A - A filosofia quer contribuir para que o Homo symbolicus prevaleça sobre o Homo faber.
B - A bioética deve condenar as descobertas das tecnociências por serem prejudiciais à vida ética.
C - O terceiro milênio começou com uma boa bagagem de horizonte ético, devido às reflexões históricas conduzidas ao longo dos últimos séculos do segundo milênio.
D - O sentido da vida hoje emerge das novas descobertas científicas e tecnológicas.
QUESTÃO 58
Não gosto de pensar a filosofia como um empreendimento interdisciplinar, pois isso me cheira a um positivismo démodé. Lembremos que Comte, não vendo a possibilidade de a filosofia produzir verdades positivas, uma vez que não opera pela experimentação, como as
ciências, reservou a ela a função interdisciplinar de reunir os conhecimentos parciais produzidos por cada ciência em uma visão de conjunto, em uma cosmovisão. Mas, por outro lado, não consigo deixar de vê-la como empreendimento transversal, que atravessa outros campos de saberes, na mesma medida em que é atravessada por eles. Penso que hoje não se cria conceito, não se produz filosofia, sem uma conexão direta e transversal com as diversas artes e as distintas ciências. Embora elas sejam distintas entre si, elas se retroalimentam, se fecundam mutuamente.
S. Gallo. A função da filosofia na escola e seu caráter interdisciplinar. In: RESAFE, vol. 2, 2004 (com adaptações).
Tendo como base o texto acima, assinale a opção correta.
A - O positivismo considera o saber produzido pela filosofia como de igual valor ao saber produzido pelas ciências.
B - A interdisciplinaridade é a melhor definição da função da filosofia.
C - A filosofia é um empreendimento transversal.
D - Chegar a uma cosmovisão é o produto central de esforço filosófico.
QUESTÃO 59
A nova legislação educacional brasileira parece reconhecer, afinal, o próprio sentido histórico da atividade filosófica e, por esse motivo, enfatiza a competência da filosofia para promover, sistematicamente, condições indispensáveis para a formação de cidadania plena. Em que pese essa competência, entretanto, cumpre destacar que, embora imprescindíveis, os conhecimentos filosóficos não são suficientes para o alcance dessa finalidade. Aliás, constitui quase um truísmo pedagógico afirmar que todos os conhecimentos, disciplinas e componentes curriculares da educação básica são necessários e importantes na formação de cidadania do educando. Nesse sentido, embora restaurando para a filosofia o papel que lhe cabe no contexto educacional, a legislação tratou igualmente de indicar como se deve corretamente dimensioná-la no ensino médio: a rigor, portanto, o texto refere-se aos conhecimentos da filosofia que são necessários para o fim proposto. Destarte, a fim de atender à demanda legal, devemos fazer um esforço para recortar, do vasto universo dos conhecimentos filosóficos, aqueles que imediatamente precisam e podem ser trabalhados no ensino médio, o que, convenhamos, não é tarefa fácil.
Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio. Parte IV: ciências humanas, p. 45 (com adaptações).
Acerca do assunto abordado no texto acima, assinale a opção correta.
A - A formação da cidadania plena no ensino médio requer o desenvolvimento da competência da filosofia.
B - Todos os conhecimentos filosóficos são necessários ao objetivo da formação da cidadania plena.
C - A responsabilidade do desenvolvimento da cidadania plena é, no ensino médio, exclusivamente do ensino de filosofia.
D - A legislação não reconhece a importância da história da filosofia.
QUESTÃO 60
As sete antinomias do ensino de filosofia de Derrida
I Protestar contra a submissão da filosofia a finalidades externas (útil, produtivo etc.).
Não renunciar ao princípio de finalidade, que rege a missão da filosofia como instância final de juízo.
II Protestar contra o fechamento da filosofia no interior de uma definição disciplinar específica.
Reivindicar a unidade e especificidade da filosofia.
III Pretender que a filosofia não seja nunca dissociada do ensino.
Permitir-se pensar que algo essencial na filosofia não seja reduzível aos atos e às práticas do ensino.
IV Exigir que as instituições sustentem essa disciplina impossível e necessária.
Postular que a filosofia exceda todas as instituições.
V Solicitar, em nome da filosofia, a presença de um mestre, mesmo sabendo que a presença dele afeta a estrutura democrática da comunidade filosófica.
VI Saber que a filosofia como disciplina requer um ritmo calmo e um tempo diluído.
Sua unidade e arquitetura testemunham uma contração instantânea.
VII Criar as condições para que alunos e professores disponham das condições de sua transmissão disciplinar (eterodidática). A filosofia não pode renunciar a seu itinerário autodidático e autônomo.
Jacques Derrida. Les antinomies de la discipline philosophique. Lettre préface. In: École et Philosophie: La grève des philosophes. Par is : Ed. Osiris, 1986 (com adaptações).
A partir das idéias do texto acima, assinale opção correta.
A - As antinomias indicadas por Derrida propõem que a filosofia como disciplina mantenha sua liberdade radical de propor sua própria metodologia de trabalho.
B - A filosofia como disciplina é possível e necessária.
C - A filosofia não pode se sujeitar a finalidades ou utilidades.
D - A filosofia deve ser pensada como uma aprendizagem autodidática.
GABARITO
41D - 42C - 43D - 44D - 45B - 46A - 47B - 48C - 50B - 51C - 52D - 53A - 54D - 55B - 56B - 57A - 58C - 59A - 60A
QUESTÃO 41
Não se trata, portanto, de estudar a história da filosofia porque na seqüência dos filósofos existe algo em si mesmo educativo. O valor educativo está em cada um dos grandes clássicos da filosofia, pois nele existe o tormento do pensamento.
M. Trombino. Elementi di didattica teórica della filosofia. Bologna, Calderini, 1999, p. 32 (com adaptações).
A partir da compreensão do uso da história da filosofia para o ensino apresentada no texto acima, assinale a opção correta.
A - O estudo da história da filosofia é, na seqüência dos filósofos, por si mesma educativa.
B - É preciso aproximar o aluno aos clássicos da filosofia para que apreenda os conteúdos fundamentais da filosofia.
C - O estudo da história da filosofia é a história de indivíduos atormentados.
D - O que a história da filosofia ensina é a compreender o tormento, a inquietude por maior conhecimento e reflexão que moveu os filósofos desde a Antiguidade.
QUESTÃO 42
Para que se possa falar realmente de história da filosofia, em sua completude, parece-me necessário estabelecer uma relação teorética, isto é, um diálogo com o clássico: pondo a ele
perguntas (as nossas, as de sempre) e avaliando suas respostas às mesmas. Sem esta relação vital com o clássico a história da filosofia se torna passatempo de colecionador e o professor de filosofia, antiquário de loja de antiguidades. Especialmente para este diálogo torna-se necessária a superação de uma pretensa postura de neutralidade do historiador da filosofia (no nosso caso, do professor): será preciso declarar explicitamente sua postura filosófica para que essa mesma possa ser avaliada e colocada "na mesa".
G. Cornelli. A lição dos clássicos: algumas anotações sobre a história da filosofia na sala de aula. In: S. e Danelon G. M. Gallo e G. Cornelli. Ensino de filosofia: teoria e prática. Unijuí, 2004, p. 194 (com adaptações).
Tendo o texto acima como referência, assinale a opção correta acerca da história da filosofia.
A - A história da filosofia é inútil para o desenvolvimento da reflexão teorética.
B - A história da filosofia é um passatempo de colecionador de antiguidades.
C - Para que uma história da filosofia se torne ensino de filosofia é necessária uma relação vital com o clássico.
D - O historiador da filosofia precisa manter-se neutro na frente dos clássicos.
QUESTÃO 43
A partir da metade dos anos 60 do século passado, no Brasil, a consciência de seu caráter de continente periférico, alheio às decisões mundiais, apêndice dos blocos de poder, substituiu a euforia desenvolvimentista. Sua marginalidade, agravada, a partir dos anos 80, pela recessão econômica, só parece compatível com as estritas análises político-econômicas
(...). O tratamento filosófico das questões era confundido com o ecletismo e o antiexperimentalismo da época colonial, sendo então tomado como traço de letrados tradicionais e incapazes de contribuir para a solução prática dos problemas (...). Essa alergia à reflexão filosófica se mostra, na conjuntura atual, pela incapacidade de lidar com a interpretação da cultura senão como prolongamento da conjuntura político-econômica.
Luiz Costa Lima. Apud F. Ceppas. Anotações sobre a formação filosófica no Brasil e o ensino de filosofia. In: S. Gallo, M. Danelon e G. Cornelli. Ensino de filosofia: teoria e prática. Ed. Unijuí, 2004 (com adaptações).
A partir das idéias apresentadas no texto acima, assinale a opção correta.
A - O desprezo histórico da filosofia no Brasil é resultado de sua origem na época colonial.
B - Os filósofos são incapazes de contribuir à solução prática dos problemas de um país em desenvolvimento.
C - O filósofo, no Brasil, é considerado, pela cultura majoritária, um elemento moderno da cultura, capaz de contribuir com o desenvolvimento do país.
D - A cultura é interpretada, no Brasil, como prolongamento da conjuntura econômica.
QUESTÃO 44
No final de as Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino, Marco Pólo e o Kublai Kan travam um diálogo sobre a cidade última, para onde todos os nossos caminhos nos levam.
Kublai - É tudo inútil, se o último porto só pode ser a cidade infernal, que está lá no fundo e que nos suga em um vórtice cada vez mais estreito. Responde Pólo - O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.
I. Calvino. As cidades invisíveis. São Paulo, Ed. Folha de São Paulo, 2003, p. 158 (com adaptações).
Acerca do assunto abordado no texto acima, assinale a opção correta.
A - A filosofia não se interessa pelas realidades últimas e pelo sofrimento pelo fim de tudo.
B - Kublai Kan não é ocidental e, por esse motivo, não se preocupa com o inferno e o final dos tempos e do ser humano.
C - Aceitar que o inferno são os outros e viver estoicamente resignado é a única atitude filosófica possível.
D - A filosofia pode ser pensada como uma busca por distinguir, no meio do inferno, sinais de esperança.
QUESTÃO 45
Uma das figuras privilegiadas na adoção do poder pastoral pelo Estado moderno, nas instituições educacionais, é a figura do professor-pastor. Ele assume a responsabilidade pelas ações e pelo destino da turma e de cada um de seus integrantes. Ele se encarrega de cuidar do bem e do mal que possam acontecer dentro da sala de aula. Ele responde por todos os pecados que possam ser cometidos no seu espaço. Embora assuma modalidades leves e participativas, entre o professor e a turma há uma relação de submissão absoluta; sem o professor os alunos não saberiam o que fazer, como aprender, de qual maneira comportar-se. O professor ganhará a confiança de cada aluno para que ele lhe confie seus desejos, angústias e ilusões. Por último, lhe ensinará que sem alguma forma de sacrifício ou renúncia seria impossível desfrutar de uma vida feliz e de uma sociedade justa.
Walter Kohan. Infância: entre educação e filosofia. Belo Horizonte. Autêntica, 2003, p. 87-8 (com adaptações).
A partir das idéias desenvolvidas no texto acima, assinale a opção correta.
A - O poder pastoral, conceito elaborado por Foucault em seus escritos mais recentes, revela-se como modelo para a atuação do professor de filosofia.
B - O poder pastoral é a forma de poder que irá estruturar as tecnologias, os dispositivos do Estado moderno.
C - O ensino de filosofia, por meio de modalidades leves e participativas, deve visar o controle absoluto do educando.
D - O professor deve ganhar a confiança do aluno para que possa depois ensinar-lhe a necessidade do sacrifício.
QUESTÃO 46
Não há ignorante que não saiba uma infinidade de coisas, e é sobre este saber, sobre esta capacidade em ato que todo ensino deve se fundar. Instruir (ensinar) pode, portanto, significar duas coisas absolutamente opostas: confirmar uma incapacidade pelo próprio ato que pretende reduzi-la, ou, inversamente, forçar uma capacidade que se ignora ou se denega a reconhecer e a desenvolver todas as conseqüências desse reconhecimento. O primeiro ato chama-se embrutecimento e o segundo, emancipação.
Jacques Ranciére. O mestre ignorante: cinco lições sobre emancipação intelectual. Belo Horizonte. Autêntica, 2002, p. 11-2 (com adaptações).
Acerca do assunto abordado no texto acima, assinale a opção correta.
A - Sócrates, que teria declarado "saber de nada saber", é o modelo de filósofo dos tempos mais antigos.
B - Ensinar é forçar o aluno a adquirir competências preestabelecidas.
C - O ensino é o preenchimento das lacunas de conhecimento do educando.
D - O ensino é sempre emancipatório.
QUESTÃO 47
Por causa de sua pobreza, imputada à inutilidade da filosofia, Tales era alvo de escárnio; graças, porém, a seus conhecimentos de astronomia, ele previu, ainda em pleno inverno, que haveria uma abundante colheita de azeitonas; ele obteve, então, algum dinheiro e adquiriu os direitos de uso de todos os lagares em Miletos e Quios, pagando pouco porque
ninguém competia com ele; quando chegou a época da extração do azeite, houve uma súbita procura de numerosos lagares ao mesmo tempo, e sublocando-os nas condições que quis ele ganhou muito dinheiro, provando que para o filósofo é fácil obter lucro quando ele quer, mas não é disso que ele cuida.
Aristóteles. Política, 1259a (Trad. Mário G. Cury).
Com referência ao texto acima, assinale a opção correta.
A - A anedota reportada por Aristóteles indica a necessidade, para o filósofo, de evitar as preocupações mundanas e se dedicar exclusivamente à reflexão.
B - A preocupação com a vida prática é um tópico importante da reflexão filosófica desde os tempos antigos.
C - O elogio a Tales não esconde a reprovação por parte de Aristóteles por ele ser capaz de enriquecer.
D - A pobreza é necessária à filosofia.
QUESTÃO 48
A redução do outro, a visão unilateral e a falta de percepção sobre a complexidade humana são os grandes empecilhos da compreensão. Outro aspecto da incompreensão é a indiferença. E, por este lado, é interessante abordar o cinema, que os intelectuais tanto acusam de alienante. Na verdade, o cinema é uma arte que nos ensina a superar a indiferença, pois transforma em heróis os invisíveis sociais, ensinando-nos a vê-los por um outro prisma. Charlie Chaplin, por exemplo, sensibilizou platéias inteiras com o personagem do vagabundo. Outro exemplo é Coppola, que popularizou os chefes da Máfia com O Chefão. No teatro, temos a complexidade dos personagens de Shakspeare: reis, gângsteres, assassinos e ditadores. No cinema, como na filosofia de Heráclito: "Despertados, eles dormem". Estamos adormecidos, apesar de despertos, pois, diante da realidade tão complexa, mal percebemos o que se passa ao nosso redor.
Edgar Morin. Os sete saberes necessários à educação do futuro.
Tendo como referência o texto acima e as idéias nele evocadas, assinale a opção correta.
A - Compreender o mundo é reduzi-lo a suas partes mínimas.
B - O cinema é alienante e ensina a indiferença para com os valores da sociedade.
C - Para compreender a complexidade que rodeia os humanos, necessita-se despertar para ela.
D - Somente a filosofia pode despertar os homens para a superação de sua visão unilateral do mundo e da complexidade humana.
QUESTÃO 50
Não acredito ser possível decidir, usando métodos de ciência empírica, questões controvertidas como a de saber se a ciência realmente usa ou não o princípio da indução. Minhas dúvidas aumentam quando me dou conta de que será sempre questão de decisão ou de convenção saber o que deve ser denominado ciência e quem deve ser chamado cientista.
K. Popper. The logic of scientific discovery. NY, Harper, 1968, p. 54-5 (com adaptações).
Acerca das idéias apresentadas no texto acima e de conhecimentos relativos à filosofia da ciência, assinale a opção correta.
A - A ciência é um saber absoluto, positivo, inquestionável.
B - A definição do método científico é uma construção social, historicamente datada.
C - A ciência é uma descrição pura e objetiva da realidade, baseada no método empírico.
D - Popper, autor do texto, acredita ser a ciência um saber logicamente comprovado.
QUESTÃO 51
A ciência manipula as coisas e renuncia a habitá-las. Estabelece modelos internos delas e, operando sobre esses índices ou variáveis, as transformações permitidas por sua definição, só de longe em longe se confronta com o mundo real. Ela é, sempre foi, esse pensamento admiravelmente ativo, engenhoso, desenvolto, esse parti pris de tratar tudo como "objeto geral", isto é, ao mesmo tempo como se ele nada fosse para nós e estivesse no entanto predestinado aos nossos artifícios. Mas a ciência clássica conservava o sentimento da opacidade do mundo, e é a este que ela entendia juntar-se por suas construções.
M. Merleau-Ponty. O olho e o espírito. Cosac e Naify, 2004, p. 13 (com adaptações).
A partir do texto acima e de conhecimentos relativos à filosofia da ciência, assinale a opção correta.
A - Merleau-Ponty revela uma predileção pela ciência atual em relação à ciência antiga.
B - A ciência antiga acredita piamente em suas ferramentas de apreensão da realidade objetiva.
C - A ciência moderna parte do pressuposto de que a realidade objetiva esteja disponível por meio da criação de artifícios que a generalizem.
D - A ciência clássica renuncia a habitar o mundo.
QUESTÃO 52
Nenhuma sociedade pode sobreviver sem um código moral fundado em valores compreendidos, aceitos e respeitados pela maioria dos seus membros. Nós não temos mais nada disto. As sociedades modernas poderiam dominar indefinidamente os poderes fantásticos que a ciência lhes deu com o critério de um vago humanismo colorido por uma espécie de hedonismo otimista e materialista? Poderiam, nessas bases, resolver suas intoleráveis tensões? Onde vão desmoronar?
Texto de uma conferência de Jacques Monod, citado por J. Russ. Pensamento ético contemporâneo. São Paulo, Paulus, 1999, p. 19 (com adaptações).
Acerca do tema abordado no texto acima, assinale a opção correta.
A - A moral contemporânea está perfeitamente adequada às novas necessidades de avaliação ética que as descobertas científicas trazem à tona.
B - Segundo Monod, há a necessidade de se estabelecer códigos morais para controlar a sociedade e impor a ela regras de conduta.
C - A ciência moderna, assim como a economia de matriz liberal, encontrará seus próprios modelos reguladores, para contribuir autonomamente ao bem-estar da sociedade.
D - Morais humanistas e hedonistas não são suficientes para resolver os conflitos sociais que a ciência moderna gerará.
QUESTÃO 53
Rousseau teve o mérito de afirmar que o princípio do Estado é a vontade. Mas, tendo entendido a vontade universal não como a racionalidade em si e para si da vontade, mas apenas como o elemento comum que deriva da vontade singular, Rousseau faz com que a associação dos indivíduos no Estado se torne um contrato, algo que, portanto, tem como base o arbítrio desses indivíduos, a opinião e o consenso explícito deles.
G. F. Hegel. Grundlinien der philosophie des rechts. Suhrkamp, Frankfurt am Main, 1995, p. 400 (com adaptações).
Tendo como referência esse texto de Hegel e conhecimentos relativos ao debate filosófico sobre o Estado moderno, assinale a opção correta.
A - Segundo Hegel, a vontade geral, que fundamenta o Estado, tem uma base objetiva, ou seja, sofre um processo de determinações históricas que transcende a ação dos indivíduos
e seus interesses singulares.
B - As teorias contratualistas, como a de Rousseau, concedem ao Estado sua própria vontade racional, independentemente dos projetos volitivos singulares.
C - A racionalidade em si e para si que o Estado precisa para existir está garantida pelo contrato social.
D - A vontade universal, segundo Hegel, é o resultado da soma das vontades individuais.
QUESTÃO 54
As pessoas dizem repetidamente que a filosofia não progride realmente, que estamos ainda ocupados com os mesmos problemas filosóficos que os gregos. Mas as pessoas que dizem
isto não entendem por que isto deve ser assim. Isto é porque nossa linguagem tem permanecido a mesma e permanece nos seduzindo a perguntar as mesmas questões. Enquanto continuar esta situação as pessoas permanecerão se deparando com as mesmas intrigantes dificuldades e encontrar-se-ão começando algo que nenhuma explicação parece capaz de esclarecer.
L. Wittgenstein. Culture and value, 15 (1931) (com adaptações).
A partir do texto acima, de Wittgenstein, e de conhecimentos relativos ao debate filosófico acerca da linguagem no século XX, assinale a opção correta.
A - A filosofia não progride em sua problematização por estar ligada demasiadamente a conteúdos antigos.
B - Está-se a cada dia inventando novos problemas filosóficos.
C - Estudar os mesmos problemas de sempre é tarefa fundamental da filosofia.
D - A sedução da linguagem impede que a filosofia elabore novas questões.
QUESTÃO 55
A filosofia de Aristóteles pode parecer uma catedral abandonada, uma construção a ser visitada aos domingos, a respeito da qual se perguntaria, com certa curiosidade, que pessoas a teriam habitado. Um exame mais atento da filosofia do nosso século, porém, atesta o contrário: Aristóteles foi continuamente discutido, analisado, debatido, e isto nas mais diferentes correntes, em momentos decisivos de suas elaborações. Em particular, a ética aristotélica ocupa uma posição privilegiada nos atuais debates sobre a moral. A razão disso consiste muito provavelmente no fato de que a ética contemporânea buscou atenuar os elementos demasiadamente rígidos que herdou do que podemos considerar a ética por excelência da época moderna - o formalismo kantiano. As reflexões de Aristóteles sobre a ação, a moral e a razão prática foram corretamente vistas por um bom número de autores como podendo servir de contrapeso a esta herança.
Marco Zingano. Prefácio. In: Hobuss João. Eudaimonia e auto-suficiência em Aristóteles. Pelotas: Ed. Universitária, UFPel, 2002, p. 9 (com adaptações).
A partir do texto acima e de conhecimentos acerca da ética clássica, assinale a opção correta.
A - A ética de Kant é uma atualização da ética aristotélica.
B - A ética contemporânea reconhece a necessidade de recorrer à ética de Aristóteles, pois seus conceitos parecem-lhe mais apropriados do que os da ética moderna.
C - A filosofia aristotélica é um edifício em ruína, relevante somente para fins arqueológicos.
D - A ética é o estudo das normas clássicas de convivência social.
QUESTÃO 56
Na filosofia, a definição constitui o momento de fixação e de delimitação, pelo menos virtual, dos conceitos. Sua aparente simplicidade esconde, de fato, um conjunto de operações que é preciso esclarecer. Não existe definição filosófica independente da doutrina. Os estilos e a forma das definições platônicas não são os de Aristóteles.
F. Cossutta. Elementos para a leitura dos textos filosóficos. Martins Fontes, 1994, p. 53 (com adaptações).
A respeito do texto acima e de conhecimentos relativos à questão da conceituação filosófica, assinale a opção correta.
A - Definir um conceito filosófico é fixar um sentido universal para ele.
B - Uma doutrina filosófica é uma articulação de definições coerentes entre si.
C - A definição é resultado de um procedimento só aparentemente complexo de delimitação dos conceitos.
D - Aristóteles apreendeu estilo e forma das definições de Platão.
QUESTÃO 57
Sem dúvida, o terceiro milênio abriu com um déficit de horizonte ético. Nem por isso os homens podem deixar de sonhar com a liberdade, com o sentido e com a finalidade da vida justa, solidária, pacífica, ou seja, com a retomada das grandes referências éticas. Em outras
palavras, o Homo faber não pode prevalecer sobre o Homo symbolicus. A questão do sentido ético da vida, da história, da ciência, está subjacente ao mundo definitivamente marcado pela tecnociência. Cabe à filosofia, à ética, à bioética criar uma hermenêutica para explicitar o sentido maior embutido na biotecnologia e na pluralidade das éticas particulares.
O. Pegoraro. Bioética e filosofia. In: Revista de Filosofia, SEAF, ano II, n.º 2, 2002, p. 53 (com adaptações).
A partir do texto acima, assinale a opção correta.
A - A filosofia quer contribuir para que o Homo symbolicus prevaleça sobre o Homo faber.
B - A bioética deve condenar as descobertas das tecnociências por serem prejudiciais à vida ética.
C - O terceiro milênio começou com uma boa bagagem de horizonte ético, devido às reflexões históricas conduzidas ao longo dos últimos séculos do segundo milênio.
D - O sentido da vida hoje emerge das novas descobertas científicas e tecnológicas.
QUESTÃO 58
Não gosto de pensar a filosofia como um empreendimento interdisciplinar, pois isso me cheira a um positivismo démodé. Lembremos que Comte, não vendo a possibilidade de a filosofia produzir verdades positivas, uma vez que não opera pela experimentação, como as
ciências, reservou a ela a função interdisciplinar de reunir os conhecimentos parciais produzidos por cada ciência em uma visão de conjunto, em uma cosmovisão. Mas, por outro lado, não consigo deixar de vê-la como empreendimento transversal, que atravessa outros campos de saberes, na mesma medida em que é atravessada por eles. Penso que hoje não se cria conceito, não se produz filosofia, sem uma conexão direta e transversal com as diversas artes e as distintas ciências. Embora elas sejam distintas entre si, elas se retroalimentam, se fecundam mutuamente.
S. Gallo. A função da filosofia na escola e seu caráter interdisciplinar. In: RESAFE, vol. 2, 2004 (com adaptações).
Tendo como base o texto acima, assinale a opção correta.
A - O positivismo considera o saber produzido pela filosofia como de igual valor ao saber produzido pelas ciências.
B - A interdisciplinaridade é a melhor definição da função da filosofia.
C - A filosofia é um empreendimento transversal.
D - Chegar a uma cosmovisão é o produto central de esforço filosófico.
QUESTÃO 59
A nova legislação educacional brasileira parece reconhecer, afinal, o próprio sentido histórico da atividade filosófica e, por esse motivo, enfatiza a competência da filosofia para promover, sistematicamente, condições indispensáveis para a formação de cidadania plena. Em que pese essa competência, entretanto, cumpre destacar que, embora imprescindíveis, os conhecimentos filosóficos não são suficientes para o alcance dessa finalidade. Aliás, constitui quase um truísmo pedagógico afirmar que todos os conhecimentos, disciplinas e componentes curriculares da educação básica são necessários e importantes na formação de cidadania do educando. Nesse sentido, embora restaurando para a filosofia o papel que lhe cabe no contexto educacional, a legislação tratou igualmente de indicar como se deve corretamente dimensioná-la no ensino médio: a rigor, portanto, o texto refere-se aos conhecimentos da filosofia que são necessários para o fim proposto. Destarte, a fim de atender à demanda legal, devemos fazer um esforço para recortar, do vasto universo dos conhecimentos filosóficos, aqueles que imediatamente precisam e podem ser trabalhados no ensino médio, o que, convenhamos, não é tarefa fácil.
Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio. Parte IV: ciências humanas, p. 45 (com adaptações).
Acerca do assunto abordado no texto acima, assinale a opção correta.
A - A formação da cidadania plena no ensino médio requer o desenvolvimento da competência da filosofia.
B - Todos os conhecimentos filosóficos são necessários ao objetivo da formação da cidadania plena.
C - A responsabilidade do desenvolvimento da cidadania plena é, no ensino médio, exclusivamente do ensino de filosofia.
D - A legislação não reconhece a importância da história da filosofia.
QUESTÃO 60
As sete antinomias do ensino de filosofia de Derrida
I Protestar contra a submissão da filosofia a finalidades externas (útil, produtivo etc.).
Não renunciar ao princípio de finalidade, que rege a missão da filosofia como instância final de juízo.
II Protestar contra o fechamento da filosofia no interior de uma definição disciplinar específica.
Reivindicar a unidade e especificidade da filosofia.
III Pretender que a filosofia não seja nunca dissociada do ensino.
Permitir-se pensar que algo essencial na filosofia não seja reduzível aos atos e às práticas do ensino.
IV Exigir que as instituições sustentem essa disciplina impossível e necessária.
Postular que a filosofia exceda todas as instituições.
V Solicitar, em nome da filosofia, a presença de um mestre, mesmo sabendo que a presença dele afeta a estrutura democrática da comunidade filosófica.
VI Saber que a filosofia como disciplina requer um ritmo calmo e um tempo diluído.
Sua unidade e arquitetura testemunham uma contração instantânea.
VII Criar as condições para que alunos e professores disponham das condições de sua transmissão disciplinar (eterodidática). A filosofia não pode renunciar a seu itinerário autodidático e autônomo.
Jacques Derrida. Les antinomies de la discipline philosophique. Lettre préface. In: École et Philosophie: La grève des philosophes. Par is : Ed. Osiris, 1986 (com adaptações).
A partir das idéias do texto acima, assinale opção correta.
A - As antinomias indicadas por Derrida propõem que a filosofia como disciplina mantenha sua liberdade radical de propor sua própria metodologia de trabalho.
B - A filosofia como disciplina é possível e necessária.
C - A filosofia não pode se sujeitar a finalidades ou utilidades.
D - A filosofia deve ser pensada como uma aprendizagem autodidática.
GABARITO
41D - 42C - 43D - 44D - 45B - 46A - 47B - 48C - 50B - 51C - 52D - 53A - 54D - 55B - 56B - 57A - 58C - 59A - 60A
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